
Patrick César da Silva Brito, conhecido pela atividade de hacker, prestou um extenso depoimento à Polícia Federal de Araçatuba na última terça-feira 24, quando expôs detalhes de um suposto esquema de espionagem, chantagem e crimes financeiros envolvendo o ex-prefeito de Araçatuba, Dilador Borges.
O interrogatório, presidido por um delegado federal, durou cerca de quatro horas e marcou um ponto de virada nas investigações que tramitam em sigilo na corporação.
Segundo Patrick, ele foi procurado no final de 2020 por Willian, conhecido como Buio, filho de Aparecido Saraiva da Rocha, o “Cido Bicheiro”, que o contratou por R$ 70 mil com um objetivo claro: encontrar “podres” do então prefeito recém-eleito, Dilador Borges. O hacker afirma ter utilizado, inclusive, o próprio computador de Cido para acessar dados pessoais de Dilador e da esposa, Deomerce.
Após invadir contas e arquivos do casal, Patrick relatou ter descoberto uma série de documentos que, segundo ele, indicariam fortes indícios de crimes como lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e envolvimento com a Operação Raio X, especialmente por meio de vínculos com o principal investigado do caso, o médico Cleudson. A conexão entre Dilador e Cleudson, inclusive, estaria registrada em contatos do iCloud do prefeito.
O hacker afirma ter entregue esse material a Cido Bicheiro, mas não recebeu o pagamento prometido. De acordo com o depoimento, Cido considerou as informações insuficientes e exigia algo de caráter mais pessoal e vexatório sobre Dilador como uma foto comprometedora, por exemplo. A partir dessa frustração, Patrick passou a extorquir Dilador Borges e sua esposa, ameaçando expor as transações suspeitas e dados bancários.
Deomerce, segundo o hacker, chegou a confirmar que os nomes dos gerentes bancários citados por Patrick, entre eles um chamado Rafael, realmente mantinham relação direta com as movimentações financeiras do casal, potencialmente ligadas a esquemas de caixa dois.
Apesar das acusações e do volume de informações repassadas, Dilador Borges nunca foi formalmente investigado pela Polícia Civil no âmbito da Operação Raio-X, segundo o próprio Patrick relatou em depoimento. A ausência de apurações contra ele e sua esposa causa estranheza ao hacker, que disse ter entregue documentos comprometedores tanto a Cido quanto ao delegado que investigou a Operação Raio-X.
Patrick também afirmou que encaminhará o material obtido à PF por e-mail, comprometendo-se a compartilhar os arquivos que comprovariam suas acusações.
A Polícia Federal agora deve analisar os documentos prometidos e avaliar os próximos passos, que podem incluir novas diligências e responsabilizações criminais. O caso segue sob sigilo.
Cido Saraiva se manifesta
A reportagem procurou Cido Saraiva, que declarou: “Não tenho nada a falar sobre essa acusação, já falei na polícia, já dei depoimento na polícia, eu mesmo registrei um boletim de ocorrência contra ele na época que fez essa acusação contra mim em um programa de entrevistas de Araçatuba, e agora ele precisa se defender, agora simplesmente ele quer procurar alternativas, ele fala mal de todo mundo, fala uma coisa, fala outra e agora é aguardar e deixar na mão da Justiça para esclarecer tudo certinho.”
Dilador Borges em silêncio
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa de Dilador Borges, mas até o momento não obteve resposta sobre os pontos levantados no depoimento.
Nota da defesa do hacker
Ao final do depoimento, a defesa de Patrick Brito, representada pelo advogado Gustavo Nonato Bertoldo, apresentou uma nota destacando que: "O objetivo da audiência era que Patrick conseguisse expor e esclarecer os fatos investigados nestes autos, e também os fatos relacionados, porém investigados em outros feitos. Estabelecendo todos os pontos e contrapontos, comprovando que não há nenhum indício de sua participação, o que restou devidamente esclarecido."
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