RELIGIÃO

Dignidade

Por Padre Charles Borg | Especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 2 min
Ilustração GPT
O misericordioso Deus reafirma, pela atenção e voz do ministro, sua incondicional fé no contrito fiel!
O misericordioso Deus reafirma, pela atenção e voz do ministro, sua incondicional fé no contrito fiel!

Absolvição sacramental não é anistia! Embora a anistia implique reconhecimento de culpa sua concessão não garante mudança de atitudes. Difusa anda a mentalidade de considerar a confissão sacramental como espécie de anistia, acerto de contas com Deus. Observa-se uma preocupante obsessão em detalhar falhas, numerar erros, como se o Todo-poderoso fosse confrontar a acusação ao dossiê que guarda do penitente, pois se dispõe somente a perdoar os pecados declarados.

Os não-confessados ficarão na lista de débitos a serem futuramente reconhecidos. Lamentavelmente, a mentalidade demasiadamente legalista obscurece a dimensão restauradora da confissão sacramental e reduz o Criador a um escrivão que registra pecados, conceito tão distante do Deus rico em misericórdia anunciado por Jesus Cristo.

Compreensivelmente, é esse enfoque demasiadamente acusatório que afasta muita gente da confissão. Confessar falhas, reconhecer erros é necessidade antropológica. Infidelidades não partilhadas assombram.

Emerge a dimensão restauradora do sacramento da confissão, mais apropriadamente definido como sacramento da reconciliação. Amadurecido e esclarecido, o fiel não foca tanto falhas pontuais, mas busca chegar à raiz que o leva a sistematicamente cometer falhas repetidas. Reconhecer e externar verbalmente falhas constitui fundamental passo em direção à libertação.

Ao aproximar-se do confessor, o genuíno penitente externa seu sincero desejo de abrir mais espaço para Deus, em especial naquela particular lacuna. Na confissão, o ser humano se reconcilia, primordialmente, consigo mesmo! Outro dado antropológico assegura que tudo o que ser humano conhece passa pelo sensorial. A postura acolhedora do confessor, as palavras de misericórdia e compaixão confirmam a redentora reconciliação com Deus. Urge ainda ressaltar que toda ação humana possui ressonância coletiva.

Nenhum pecado é rigorosamente individual, assim como nenhuma boa ação é meramente pontual. Ao reconciliar-se consigo mesmo e com Deus, o penitente reconhece que necessita igualmente reparar os danos causados à comunidade pela sua má ação. Só se reconcilia com o Pai Eterno quem se reconcilia com os irmãos ... perdoai-nos assim como perdoamos! Reconciliado com Deus e consigo mesmo, o fiel assume o genuíno empenho de construir um mundo novo!

Ao delegar à Igreja o ministério do perdão, o Senhor Jesus demonstra profundo conhecimento da alma humana. Malfeitorias quebram a harmonia interna, geram fissuras na comunidade, mancham a comunhão com o divino. Ao frequentar a confissão sacramental, o fiel recupera sua saúde integral; reconcilia-se consigo mesmo, com a comunidade, com o divino.

Por sua vez, o misericordioso Deus reafirma, pela atenção e voz do ministro, sua incondicional fé no contrito fiel! O homem falha, mas sempre reúne condições de se levantar e acertar a marcha! Confissão não é anistia! É restituição da dignidade!

O padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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