PATROCÍNIO

Caraguá (SP) aprova publicidade em uniformes e kits escolares

Por João Pedro Feza | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Prefeitura de Caraguatatuba/Facebook
A lei permite inserção do nome ou marca de empresas em uniformes e kits.
A lei permite inserção do nome ou marca de empresas em uniformes e kits.

Caraguatatuba, no litoral norte paulista, liberou publicidade em kits e uniformes escolares de 16.970 alunos da rede de educação básica, mas as crianças seguem sem receber os itens porque ainda falta a abertura de edital para atrair empresas interessadas.

Leia mais: Taubaté suspende licitação para a compra do uniforme escolar

Aprovado por unanimidade na Câmara em 11 de março - apenas 1 dos 15 vereadores faltou por motivos médicos -, a iniciativa do Executivo chegou em regime de urgência, ganhou sinal verde do Legislativo e deu origem à lei 2.270, publicada no Diário Oficial do último dia 13.

Sancionada pelo prefeito Mateus Silva (PSD), a lei permite inserção do nome ou marca de empresas em uniformes e kits que, como contrapartida, serão doados por esses mesmos patrocinadores.

É vedada a publicidade de partidos políticos e de quem vende produtos ou serviços proibidos ou impróprios para menores - como bebidas alcoólicas e armamentos. A logomarca da patrocinadora em camisetas e mochilas, por exemplo, não poderá ser maior que o emblema da escola.

"Essa iniciativa permite que os alunos tenham acesso aos materiais escolares sem custo para as famílias e fortalece a relação entre o poder público e o setor privado em prol da educação", justifica o prefeito.

Como a intenção é contar com fornecedores locais, Silva ressalta que "esse modelo de parceria beneficia o comércio local e contribui para gerar empregos".

Estudantes da pré-escola e dos anos iniciais e finais do ensino fundamental ainda esperam pelo benefício.

"Será aberto edital para a participação dos interessados", disse a prefeitura, por nota à reportagem, em 26 de março. Prazos não foram informados.

Em 2024, os uniformes custaram R$ 6,8 milhões, e os materiais que formam os kits, como canetas, tesouras e cadernos, R$ 4,8 milhões. A previsão orçamentária da Secretaria Municipal de Educação para 2025 soma R$ 345,8 milhões. O montante é considerado insuficiente para cumprir todas as agendas da pasta.

'Nem outdoor nem abadá'

"Sabemos que há uma situação de aperto financeiro. Aprovei com dor no coração", declara a vereadora Cássia Gonçalves de Jesus (PT). "Foi um voto contrariado porque sou contra a terceirização no setor."

Ela diz que as crianças "estão indo com as roupinhas que têm" e que vai questionar a urgência imposta ao projeto pelo Executivo na próxima sessão do Legislativo, terça-feira (1º). "Se era urgente, qual a previsão para sair do papel?"

"Vou lutar para ser uma coisa pontual [para este ano] porque há políticas que o município precisa custear 100%", acrescenta a vereadora, que não integra a base do prefeito. "Nossa preocupação é a de que o uniforme vire um outdoor, uma espécie de abadá. Aluno não pode ser garoto-propaganda em escola."

Publicada em abril de 2014, a resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) considera abusiva a publicidade em creches e escolas de educação infantil e fundamental, inclusive nos uniformes e materiais didáticos.

Criado em 1991, o conselho é composto por cidadãos ligados à promoção e proteção dos direitos da criança, além de representantes de ministérios.

A Prefeitura de Caraguatatuba argumenta que não há incompatibilidade com a lei. "Não há neste patrocínio qualquer caracterização ilegal de publicidade, direcionamento ao público infantil ou estratégias de comunicação mercadológica que são vedadas pela referida norma", declara.

A prefeitura afirma, ainda, que os kits "não poderão conter propaganda que estimule o consumo ou viole direitos e garantias do sistema de proteção à infância e juventude".

O tema está na pauta de reunião do Conselho Municipal de Educação de Caraguatatuba na segunda-feira (31).

"Temos o parecer do Conanda e outras legislações para analisar a situação. Caso ocorra a necessidade de contato com conselhos nacionais, nós o faremos", diz a presidente do órgão, Paula de Campos Bueno.

Formado por oito indicados pelo Executivo e oito eleitos por segmentos da sociedade, o conselho não foi consultado sobre o projeto. "O ideal é que passasse antes por nós", afirma Bueno.

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários