O ano letivo começou diferente em uma universidade de Guarulhos (SP). Entre os calouros do curso de Nutrição está a dona Iolanda Ribeiro Conti, com 91 anos de idade. Ela tem sido uma inspiração para os colegas e para todas as pessoas idosas do país, que conheceram a sua história pela mídia nas últimas semanas.
Como a maioria das mulheres da sua idade, dona Iolanda não foi estimulada a estudar, só a trabalhar e cuidar. Aos 8 anos de idade já trabalhava na roça com os pais, em Minas Gerais. De volta à casa, cuidava dos irmãos.
Como muitas meninas pobres, aos 11 anos foi levada para São Paulo por uma família que prometeu cuidar dela e dar-lhe estudo. Não deram. Ela foi explorada com trabalho análogo à escravidão até que se casou, teve três filhos, trabalhou em padaria, lavanderia e com faxina, mas não conseguia estudar, nem escrever o próprio nome, nem fazer conta.
A vida passou. Mas aos 85 anos, dona Iolanda ainda falava que queria aprender a escrever e a ler. Foi então que uma filha a matriculou no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), conhecido por Supletivo, e, em dezembro passado, ela recebeu o diploma do ensino médio das mãos dos professores da Escola Estadual Padre Conrado Sivila.
Mas dona Iolanda não queria parar de estudar. Uma universidade local ofereceu uma bolsa de estudos para o curso que ela desejava. Como fez durante todo o processo educacional da mãe, a filha continua acompanhando-a na escola e dona Iolanda está feliz. Mas ela não é a única.
Milhares de idosos estão voltando aos bancos escolares, da EJA à graduação e pós. As instituições de ensino já perceberam esse movimento e estão criando e implantando cursos direcionados para a terceira idade, como a própria USP – Universidade de São Paulo que tem mais de 60 cursos gratuitos para pessoas com 60 anos ou mais.
Além da USP, várias outras instituições de ensino – públicas e privadas - estão se preparando para esse novo mercado com cursos presenciais, como o da dona Iolanda, semipresenciais e online. A Educação A Distância, aliás, atrai muitos idosos porque estudar em casa é, muitas vezes, mais fácil.
Nessa modalidade, o estudante não precisa depender de ninguém para locomoção, não é necessário enfrentar o trânsito ou o transporte público (as quedas são o principal medo), e eles podem estudar a qualquer hora. Se um dia a pessoa não está disposta pela manhã, ela pode estudar de tarde ou de noite. Ou vice-versa.
Quer saber por que a volta ao estudo tem sido um movimento constante entre as pessoas de 50 anos ou mais? Primeiro, a idade não é um limite para aprender. Todos nós aprendemos coisas novas todos os dias. Mas o mais importante é que pessoas mais velhas podem se beneficiar muito com o estudo melhorando a memória, a concentração e as habilidades cognitivas. Além disso, o estudo pode ajudar a prevenir doenças como o Alzheimer, segundo apontam as pesquisas.
Pessoas mais velhas que estudam tendem a ter uma melhor qualidade de vida, se sentindo mais realizadas e conectadas com o mundo ao seu redor. O estudo também pode ser uma ótima oportunidade para aprender novas habilidades, como tecnologia ou artes. Além disso, o estudo pode ajudar a combater a solidão e o isolamento, promovendo a interação social e a conexão com outras pessoas.
Foi o que aconteceu o avô da Beatriz, o seu João. Pedreiro por uma vida toda, aos 68 anos ele decidiu estudar. Fez o supletivo, passou no vestibular e com 74 anos defendeu seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) em História em uma universidade pública. Ele disse que escolheu o curso de História porque queria entender melhor o mundo que ele ajudou a construir com as próprias mãos. Agora seu João vai fazer pós-graduação. “Se eu cheguei até aqui, por que parar?”. Não há por que parar.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é graduada em jornalismo e marketing digital. Mestre em comunicação e semiótica com MBA Internacional em gestão educacional
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