A “Sociedade do Espetáculo" é um conceito desenvolvido pelo filósofo francês Guy Debord no livro de mesmo nome, de 1967. Debord argumenta que a realidade social se transformou em uma série de imagens e representações que substituem a experiência direta da vida. De acordo com o autor, o espetáculo é uma forma de alienação, onde a sociedade se distancia da realidade concreta e se entrega a uma aparência que a domina.
O espetáculo não é apenas o entretenimento, mas também a forma como as relações sociais, políticas e econômicas são mediadas e moldadas pela imagem e pela superficialidade. Essa noção se alinha diretamente com o funcionamento das redes sociais hoje. Essas plataformas digitais criam um mundo onde as pessoas se exibem, compartilham momentos idealizados e buscam validação através de curtidas e comentários.
O “espírito do espetáculo” se reflete nas redes, onde as interações se tornam cada vez mais baseadas na imagem e na performance, em detrimento de relações mais profundas. Assim como na sociedade descrita por Debord, a experiência real é substituída por uma constante busca por aprovação externa. A superficialidade se torna a norma, fazendo com que a essência da experiência humana seja ofuscada pela busca incessante por reconhecimento e visibilidade.
No mundo das aparências, conquista a liberdade – e por que não dizer, a felicidade — quem escolhe ser desimportante. Quem reconhece a sua insignificância diante do ciclo da vida no universo. Quem se permite não ser o centro das atenções e, por consequência, aceita não ser o primeiro da turma, o líder do grupo, o mais bonito ou a mais bonita, enfim, o “melhor” em todas as competições que a sociedade impõe. E olha que não são poucas.
Encontra a paz – e, de novo, a felicidade – quem se torna “menos importante” nos seus grupos sociais. A explicação é fácil de entender: sem a pressão constante para atender as expectativas dos outros, sobra mais tempo e energia para se concentrar no que realmente importa. E o que realmente importa? Viver os próprios sonhos e desejos de maneira autêntica e em harmonia com os nossos valores, sem a necessidade de validação externa.
Ser menos importante não significa não ser bom. Quem se dedica ao que realmente deseja tem todas as chances de sucesso. Ser menos importante significa não se preocupar com número de seguidores e curtidas. Significa sentir-se bem vestindo roupas que não são de marca. Significa não se abalar diante daqueles que te julgam pelos seus bens e não pelas suas ideias.
Ser desimportante, às vezes, é bom até contra a violência. Pesquisas mostram que mulheres com mais de 60 anos, que escolheram envelhecer naturalmente e, portanto, mantêm os seus cabelos brancos e sua pele sem toxinas ou preenchedores, são menos atacadas na nossa sociedade patriarcal, machista e misógina. Elas, infelizmente, sofrem o preconceito do etarismo, mas são menos violentadas de outras formas.
Entretanto, não ter que provar nada para ninguém é um desafio que poucos têm coragem de enfrentar. Isso é particularmente mais difícil para os jovens. Em um experimento social recente que viralizou na internet, um entrevistador perguntava aos adolescentes que estavam prestando vestibular: “Se todas as profissões fossem remuneradas igualmente, o que você gostaria de ser?”.
As respostas foram variadas e incomuns: bailarina, fotógrafo, esportista... Quando o entrevistador perguntou qual profissão esses jovens escolheram para prestar o vestibular, a resposta foi quase única: medicina, a profissão que para a maior parte da sociedade brasileira continua sendo a que mais dá status social e dinheiro.
O fato é que, por pressão familiar e social, muitos jovens fazem escolhas com as quais terão de conviver com as consequências – nem sempre positivas – pelo resto de suas vidas. Por quererem agradar aos outros e não a si mesmos, seguem caminhos tortuosos que levam, muitas vezes, à depressão, mas especialmente à inação. Assim, o grande desafio hoje é ser desimportante para a sociedade, mas ser completamente importante para si mesmo.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é graduada em jornalismo e marketing digital. Especializada em metodologia didática, com mestrado em comunicação e semiótica, e MBA Internacional em gestão educacional.
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