Decididamente, essa é mais uma declaração de amor por Araçatuba. Ela, que encanta a muitos, desencanta a alguns, mas que parece ter algo mágico, indecifrável a nos fascinar eternamente. São muitos os que aqui retornando, se deixam ficar, por horas, meditando sobre essa sensação de posse definitiva que a cidade costuma provocar. E o clima? Sempre verão. É a água do Baguaçu, diz a lenda.
Araçatuba é hospitaleira, é a primeira mensagem que o visitante encontra quando chega na avenida Brasília. Logo, se sente à vontade. Estrangeiros se apaixonam pelo céu azul, pelo sol tórrido, pela geografia plana daquela que foi um dia a “cidade das bicicletas”. É bem verdade que na década de 70, as ciclovias (projeto do então Secretário de Planejamento do Estado de SP, Jorge Wilheim) não vingaram por aqui. Não foi pelo desinteresse da comunidade, é bem verdade!
É a nossa Araçatuba de gente talentosa em todas as áreas.
Além do que a história registra nos livros, como a formação do município, a luta pelo desbravamento em torno de um simples vagão aqui estacionado, a implantação do prolongamento da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, passando por Bauru, o sacrifício das primeiras famílias que vieram para cá e os vários ciclos de desenvolvimento econômico, há outras personalidades, nascidas ou não na terra dos araçás que também deixaram suas marcas e por certo serão oportunamente lembrados nesse incrível capítulo de coragem e determinação.
Para conhecer, grosso modo, um pouco dessa história, é preciso que as novas gerações conheçam alguns desses personagens. O spalla da extinta Camerata, Satoru Okida, por exemplo, era um médico conceituado, culto, violinista, dedicado também à música, ao lado do colega Carlos Alberto Normanha. O Maestro José Raab que compôs com Sarah Pereira Barbosa, o Hino do Instituto de Educação Manoel Bento da Cruz e o Hino de Araçatuba.
Leia um dos muitos livros do pediatra Geraldo da Costa e Silva e sinta a delícia de um texto escorreito, eloquente, vivo como um catador de pérolas no mundo das palavras. Conheça mais de perto a história da Academia Araçatubense de Letras, converse com a professora Maria Aparecida de Godoy Baracat, procure na biblioteca municipal um texto de Aldo Campos ou peça para alguém definir o que sentiu ao ouvir os acordes da sanfona de Antônio Carlos Pacheco, o nosso Pachecão, tocando La Vie en Rose ou um tango de Gardel. Somos diferentes.
Faltam nomes nessa lista que pode ser considerada de memória curta; no entanto, há que se reconhecer figuras marcantes da sociedade local, em várias áreas de atuação, nessa incrível miscigenação e sobre as quais temos histórias para contar às novas gerações. Famílias inteiras, oriundas de toda parte: Sato, Rintaro e Kunivo Takahashi, Franco Baruselli, Abrahão e o filho Naoum Cury, Rezek Nametala Rezek, Luiz Quintiliano,
Garão Maia, Walter Perri Cefali, Nair Madeu Falco, Flávio Miragaia, Rolandinho Perri, Antenor Geraldi, Ary Bocuhy, Florivaldo e Railda Prates, Aristides Troncoso Peres, Oscar Luiz Piconez, Amadeu Vuolo, João Gomes Guimarães, Missé Moraes de Souza, Carlos de Castro Neves, Elísio Gomes de Carvalho, João Francisco de Arruda Soares. E mais: Khalil Nakad, Takeshi Ussui, Alexandre Biagi, Maria Luiza Paiva Afonso, Nair Calvo Fares, Mizue Sawada Otsuka, Shoji Kato, Edélcio Ferreira de Araújo, Orestes Spironelli, Hortênsia Menezes Borges, Edwiges Bernardes, Daisy Maia, Arnaldo dos Santos Vieira, Henrique de Carvalho, Osvaldo Cintra, Lycio Avezum, Oscar Marques de Oliveira, Wilson Bedaque, Duílio D’Angelo, Maurício Toledo.
Nomes que o tempo não apagará de nossa memória. Conheça a história da primeira mulher a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Araçatuba, a advogada, Maria José Bedran. Leia uma petição do saudoso causídico Sérgio Caputti de Silos, uma sentença do meu colega de classe e depois magistrado, Antônio Benedito Ribeiro Pinto que se transferiu para Porto Alegre, chegando a desembargador. Aposentou-se após proferir mais de duas dezenas de milhares de votos, um exemplo a seus pares. Araçatuba de suas misses, Idalva Fraga Moreira, Ângela Maria Favi (que se tornou Miss São Paulo e ficou em segundo no Miss Universo – à esquerda, na capa da Revista Manchete) e, se me permitem, Maria da Penha Bocuhy Negri. Todas elas coroadas em eventos inesquecíveis no Araçatuba Clube, sob o comando da cronista social, Odette Costa Bodstein, que entre tantas façanhas, foi aos Estados Unidos entrevistar Sebastião Ferreira Maia, a convite do próprio Tião Maia, ele, a maior das expressões do empreendedorismo na distante década de 1950. Leia uns versos de José Feliciano, um editorial de Ubirajara Lemos (o “véio” Bira, irretocável na gramática e na crítica ácida de seu texto) ou do casal Genilson Senche e Ana Elisa, sempre visionários em um segmento de vital responsabilidade; relembre uma crítica de Alcides Mazini (que amava a música e o Rádio e que nos deixou um grande legado), peça para visitar o acervo magnífico de mpb de Ataliba Sanches ou preciosidades do rock’n roll do Promotor de Justiça, Reinaldo Penteado, também meu contemporâneo na Faculdade de Direito.
Leia uma crônica de Élcio Bueno ou relembre as de Éddio Castanheira, que foi um dos primeiros diretores da Divisão Regional de Saúde e escrevia para o jornal A Comarca que Paulo Alcides Jorge, vindo de Avaré, transformou em empresa rentável em pouco tempo. E se você for visitar a antiga Bolsa de Valores em SP, lembre-se que a “escultura do martelo” é marca registrada do artista araçatubense Osni Branco que sempre divulgou a cidade no Japão e por este mundo afora. Logo você perceberá que somos, de fato, diferentes. Na capela do Salesiano, observe os traços de Sílvio Russo, os retratos de Clara Anze, o trabalho de Márcia Porto, Mildred Rocha e tantos talentos que fizeram da pintura uma profissão. Pense em um Joaquim Dibo, abnegado que respirava educação 24 horas, batalhador incansável pela implantação da nossa FOA, ao lado de Nicola Fares, Plácido Rocha e outros araçatubenses.
Convido a todos para que conheçam as histórias do Prof. Carlos Aldrovandi, primeiro diretor da Faculdade de Odontologia, de Eugênio Zerlotti, Tetuo Okamoto, Robert Holland, Orlando e Nemre Saliba, César e Paulo Perri de Carvalho e outros profissionais que construíram invejável reputação e fizeram do campus da UNESP de Araçatuba uma referência nacional. Consulte as Atas da Câmara Municipal e anote alguns de seus mais ilustres vereadores, seus primeiros presidentes, Aristides Troncoso Peres, Augusto Simpliciano Barbosa, Antônio Giampietro Sobrinho, Renato Prado. E descubra porque faz tanta falta na política local, pessoas como um José Ferreira Batista Júnior, o Ferreirinha. Nosso maior edil.
Leia uma das muitas crônicas de Jorge Napoleão Xavier, o Napo, sobre a “velha senhora”, um craque das palavras, ele sim, um impecável memorialista. Reveja o porte de um Adelino Moreira, Adelino Brandão, dos inigualáveis mestres do Instituto de Educação Manoel Bento da Cruz (IE) de Arthur Evangelista, onde estudei e no qual meu irmão, Moacir Negri, foi diretor no centenário da escola.
Araçatuba de gente competente, como Adalberta Cavalcante Fortes Martins e Rosário Perez que gravaram seus nomes à frente do Amor Exigente, uma associação de serviços imensuráveis de grupos de apoio e mútua ajuda, trazida ao Brasil pelo Padre Haroldo Rahm. O Araçatuba Clube dos inesquecíveis carnavais de Geni, Aracy e Dario Rico, cujos sorrisos permanecem na memória dos foliões com seus blocos maravilhosos. De Alexandre Filié, seu maior folião, e do icônico diretor social do AC, Vicente Scalla, do presidente, José Silva Vilela, um baluarte, signatário do Estatuto do clube, em 1977, ao lado de Arlindo Ferreira Batista, Dirceu Marchini, Walter da Eira, Munir Andraus, Shin Kato, Newton Coelho.
Gente que também arregaçava as mangas, como Walflor Pereira de Queiroz, fundamental na criação do Corinthians, clube de eventos inesquecíveis. De nomes como Rosvel de Menezes e dos Reis Momos Edson Cabariti (o Bolinha, o mais popular dos apresentadores), Moretti e de João Navarro (mais de 20 anos brilhando no personagem) e que perdeu sua Rainha em pleno carnaval, aquela que brilhou nos idos da década de 1970. Maria Neide de Araújo, a bela morena que parava a Rua Oswaldo Cruz ao desfilar nos carros alegóricos e que faleceu em plena segunda-feira de carnaval.
Araçatuba do engenheiro e vice-prefeito Agnaldo Ferraz e da sempre saudosa Maria Aparecida, a grande dama que reunia, de forma simples e natural, todas as colônias locais em grandes festas beneficentes; de Florivaldo Prates que manteve durante quase 30 anos um clube de amigos, por onde passaram mais de 400 “craques da bola”; a cidade de gente bacana, competente, como Márcio Polidoro e Hugo Higushi, Manoel Dourado e Maria Lúcia Milani, Hirose Itinose.
O porto seguro do sempre bem humorado jornalista Jeremias Alves Pereira com suas “Ligeiras” na Tribuna da Noroeste; do violonista José Calixto (que estudou com Paulinho Nogueira) Edmundo Alves, Areobaldo Manfredini, Luiz Brandini e dos multi instrumentistas José Renato Gimenes e Marcelo Amorin, patrimônios nossos. Araçatuba foi a cidade que acolheu e concedeu o título de cidadão araçatubense ao culto Maurillo Simão da Silva, Secretário e Diretor Geral da Câmara dos Vereadores, que sabia tudo e um pouco mais de seu ofício.
A Araçatuba do empreendedor e visionário Elísio Gomes de Carvalho, criador da bela avenida Brasília: de Astolfo Assis, Luiz Rezende, Luiz Acialdi, de Luiz Ortiz, o advogado/poeta cujas crônicas de Natal eu gravava indicadas por Líbero Bezerra de Menezes, o Belô: o carnaval de salão de Laquimé e Manfredini, fazendo história na batida do surdo e no repique dos tamborins, nos frequentadíssimos bailes do Clube Bancários, Corinthians e Araçatuba Clube, aliás, de onde saiu o “Açucareiro” a escola de samba criada pelo Fiscal de Rendas, Raul Bresciani, na gloriosa década de 1970.
Leia sobre a Araçatuba do deputado Plácido Rocha e dona Eponina,de Antônio Viol, o primeiro agricultor, Angelo Pagan, Antônio Saran, Anze Molize, Antônio Xavier Couto, Juvenal Pazian (criador de nossa bandeira), Edmundo Aguiar Ribeiro, Célio Pinheiro, coautor com Odette Costa do excelente livro sobre a história local. A cidade de Dante de Conti e Nicola Fares que implantaram a nossa primeira estação de rádio: e se Luís Falanga foi o primeiro locutor a inaugurar a emissora AM, tive o privilégio de ser o primeiro locutor a ocupar os microfones da Cultura FM, de Gladys May e Mauri Pavanello de Campos; a cidade dos Astros de Amanhã que teve, entre outros artistas, o advogado e Procurador do INSS aposentado, Lúcio Leocarl Collichio.
A cidade do boi gordo, de Clibas de Almeida Prado, Osvaldo Cintra e do mineiro de Uberlândia, Torres Homem da Cunha, que comandava uma das marcas mais tradicionais da pecuária zebuína no Brasil, a VR, criada em 1914 pelo pai, Vicente Rodrigues da Cunha.
Na década de 60, Torres Homem foi responsável pela importação de grandes reprodutores da raça nelore da Índia, como o touro karvadi, cuja genética contribuiu para melhorar a qualidade do rebanho brasileiro. A cidade da Exposição de Animais e do Rodeio, de tanto sucesso no Brasil, e a mais recente chegada da ABQM com seus magníficos cavalos Quarto de Milha. O decisivo Sindicato Rural da Alta Noroeste (SIRAN) parceiro confiável e atuante do produtor rural, entidade maiúscula dos primeiros presidentes Marco Antônio Viol e Francisco de Assis Brandão Filho, rejuvenescida mais uma vez por Thomas Arias Rocco, neto do saudoso amigo Alfredinho Neves.
Saia a passear pelas ruas da cidade para reconhecer a arquitetura do construtor Santo Giammusso. A Araçatuba de Manoel Dionísio e José Colaferro que, embora em marcas diferentes, deram um exemplo de trabalho, dedicação e de igual retidão na busca de seus ideais. Lado a lado, as duas grandes marcas, Chevrolet e Volkswagen, entre os mais ousados empreendimentos que marcaram época.
A cidade que o libanês Chaim Zaher escolheu para ser sua e que na distante década de 1970, depois de implantar o Colégio Objetivo, decidiu apontar os olhos sonhadores para um horizonte maior e, confiante, construir seu império nas áreas da educação e da comunicação. E assim chegaram o COC de Ribeirão, o Colégio Thathi, a consolidação do Grupo Thathi e, em plena expansão, o SEB (Sistema Educacional Brasileiro). E que, por amor a essa cidade, não se cansa de olhar para esta Araçatuba que o acolheu definitivamente como filho. E quem sabe um dia, tornar-se seu prefeito.
A cidade dos que já pertenceram ao Executivo: Aureliano Valadão Furquim (avô do magistrado Antônio Angrisani de Oliveira Filho) que colocou Araçatuba no mapa estadual com o codinome “capital do asfalto”; de Célio de Araújo Cintra, José Coelho Júnior e Renato Prado, Waldemar Alves, Adelino Moreira Marques, Floriano Camargo de Arruda Brasil, Antônio Saraiva e Nelson Pires, Joaquim Geraldo Correa, João Batista Botelho, o Cuiabano, Sylvio e Germínia Dolce Venturolli (que nos deixou recentemente, a ser lembrada sempre por sua educação e serenidade).
Depois Valdir Felizola de Moraes, Oscar Luís Ribeiro Gurjão Cotrim, Sidney Cinti e Valter Tinti (que construíram o calçadão da Marechal), Domingos Andorfato, Jorge Maluly Neto (antes, deputado federal por várias legislaturas), Cido Sério e Dilador Borges. E agora, por decisão das urnas, do jovem Lucas Zanatta.
Araçatuba de pessoas extremamente cultas, mentes privilegiadas como as de Washington Luiz Ferreira da Cunha, Fausto Perri, Fernando de Almeida Prado e Creso Machado. Esportistas brilhantes, como o lendário Anubes Ferraz (campeão sulamericano de atletismo) do fundista Manoel Lopes Sales, Hélio Pereira de Sousa, Ivo Antunes, do velocista Katsuhico Nakaya de duas Olimpíadas, dos técnicos Franz Gaspar e José dos Santos Primo e tantos outros. Vibre, de novo, com o basquete dos áureos tempos de Júlio Mazzei e Walter Perri Cefali (nas quadras do Colégio D. Pedro II) e depois com os times tamanho família de Nelson Luz e Lauresto Rufino. Das épocas áureas do futebol amador, com o Araçatuba Futebol Clube, Flamengo (campeão do Interior em 1959), Ferroviário (campeão da 3ªDivisão de Profissionais em 1966), Palmeirinha da Água Limpa, São Paulo FC, T Maia, do glorioso América onde Juarez Damasceno circulava com desenvoltura, à frente da Liga Araçatubense de Futebol. E não esquecer da dupla doutor Pratinha e Aymoré Chiquito dirigindo a AEA de 1973 (campeã paulista da 2a Divisão), que volta em 2025, mais forte do que nunca, com a torcida mais vibrante e de presença maciça no Estádio Adhemar de Barros, o Adhemarzão, onde João Noce marcou o primeiro gol. Essa cidade exerce um fascínio inexplicável. Ao início de cada ano, lança um olhar de desafio aos novos empresários para que as futuras gerações não precisem lamentar atos escabrosos como a demolição da antiga sede da Associação Comercial; da Igreja Matriz e da Igreja Metodista (duas lamentáveis decisões) ou do primeiro Ginásio de Estado. A cidade que sempre acolheu a todos com um sorriso e hospitalidade incomuns, pessoas de toda parte que a ajudaram crescer na diversidade e ser, de fato,um município marcante.
Araçatuba e seus 116 anos de luta e glória . Muitos a defendem, outros a criticam, pedem parques públicos para suas caminhadas, a ausência disso ou daquilo, coisas urgentes a serem feitas. Há os que nem sabem de sua história. A cidade parece apenas observar, contemplar a todos com sabedoria: uma hora chegará em que o bem coletivo superará os interesses pessoais e, unidos pelos mesmos objetivos, haverá de surgir uma cidade melhor, mais forte, mais humana e solidária.
De gente muito mais feliz!
Meu amigo Naoum Cury (a quem Flávio Leite Ribeiro incumbiu de administrar o Zoológico local e no qual o leão Yuri reinava absoluto) dizia sempre: histórias existem para serem contadas de geração para geração, não há como e nem razão para ignorá-las. Elas acabam resvalando em cada um de nós.
Hélio Negri, araçatubense, professor por paixão às letras, jornalista por acreditar no poder transformador das palavras e radialista, por ter a sorte de viver mais de meio século fazendo as três coisas juntas.
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