Recentemente tive contato com um livro que me trouxe reflexões, que gostaria de dividir neste artigo. Na obra A Morte de Ivan Ilitch, de Liev Tolstói, somos convidados a refletir sobre a essência da vida diante da proximidade da morte. Ivan Ilitch, um homem aparentemente bem-sucedido, percebe, ao descobrir uma doença fatal, que sua vida foi construída sobre valores superficiais.
Ele seguiu padrões sociais que, no fim, não lhe trouxeram verdadeiro significado. Ao longo do livro, somos levados a acompanhar sua dolorosa jornada de reflexão, na qual o protagonista percebe que, ao tentar se adequar ao que esperavam dele, acabou se distanciando do que realmente importava.
Tenho observado, com certa preocupação, que muitas pessoas hoje parecem seguir um caminho semelhante ao de Ivan Ilitch. Em busca de aprovação, de uma ideia distorcida de sucesso ou, muitas vezes, do simples desejo de "pertencer", acabam ocupando suas vidas com aquilo que é externo e passageiro.
Na sociedade contemporânea, com o avanço das redes sociais, essa busca pela aprovação alheia tomou proporções alarmantes. Não são raros os casos de pessoas que se endividam para manter uma imagem de sucesso, adquirindo bens materiais e consumindo de forma compulsiva para atender expectativas irreais.
As redes sociais, embora tenham suas vantagens, intensificam a pressão para se viver uma vida que, muitas vezes, não corresponde à realidade. Fotos de viagens, carros de luxo, roupas de marca e corpos esculpidos são exibidos como símbolos de uma vida ideal.
O problema é que, na tentativa de alcançar esse "padrão", muitas pessoas estão abrindo mão de suas próprias prioridades e necessidades reais. Assim como Ivan Ilitch, vivem para agradar aos outros, mas acabam se perdendo de si mesmas. Esse cenário, infelizmente, tem levado muitos a uma sensação de vazio, desespero e angústia.
Em tempos de imediatismo, o que é essencial tem sido deixado de lado. Quantos de nós paramos, de fato, para refletir sobre o que dá sentido à nossa existência? Será que estamos vivendo para nós mesmos ou estamos apenas atuando, desempenhando papéis que outros esperam de nós? É preciso lembrar que, no fim das contas, o acúmulo de bens materiais e a busca incessante por uma imagem de sucesso não trarão a paz interior que desejamos.
A história de Ivan Ilitch é uma lembrança poderosa de que o tempo é curto e as escolhas que fazemos hoje impactam diretamente na qualidade de nossa vida. Tolstói nos alerta, através desse personagem, para a necessidade de viver com autenticidade, em harmonia com nossos valores e com aquilo que realmente importa: as relações humanas genuínas, a paz de espírito, o amor e o cuidado com os que nos cercam.
Se não refletirmos agora sobre o caminho que estamos trilhando, corremos o risco de chegar ao fim da vida com arrependimentos profundos. Não precisamos esperar o diagnóstico de uma doença grave, como Ivan Ilitch, para repensar nossas prioridades. Temos a oportunidade de mudar o curso da nossa trajetória enquanto ainda há tempo. Para isso, é preciso coragem. Coragem de questionar padrões, de dizer "não" àquilo que não nos serve, de priorizar o que nos faz bem e nos traz verdadeiro contentamento.
O essencial é invisível aos olhos, já dizia Saint-Exupéry. A essência da vida não está no que temos, mas no que somos e na qualidade das nossas relações.
Jean Oliveira é jornalista, bacharel em Turismo e acadêmico de psicologia
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