Na semana que passou, a Amazônia tornou-se o lugar que mais produziu gases do efeito estufa no mundo, segundo o Copernicus, um observatório europeu.
Também na semana que passou, a cidade de São Paulo foi, por um dia, a capital mais poluída entre todas, de todos os países, de acordo com o IQAir.
O Brasil queima inteiro e a fumaça já atinge 60% do território nacional ameaçando a vida de milhões de pessoas e animais. Os biomas correm sérios riscos de extinção.
São as consequências das mudanças climáticas provocadas pelas ações do homem no planeta. Mas há quem ainda não acredite. Negacionistas, aqueles que escolhem negar a realidade como forma de escapar da verdade desconfortável.
Incrivelmente, todos se dizem preocupados com a preservação do meio ambiente, dos políticos aos empresários, dos industriais aos agropecuaristas.
Mas os discursos não condizem com as ações. Muitos eleitores, por exemplo, apoiam políticos que têm estratégias de destruição em vez de prevenção.
Quem não se lembra de um ex-ministro do Meio Ambiente que em reunião gravada – e divulgada amplamente, nacional e internacionalmente – orienta o então presidente da República a aproveitar que a imprensa estava ocupada na cobertura da pandemia da covid-19, para “passar a boiada”?
No contexto daquele discurso, “passar a boiada” significava liberar a exploração do meio ambiente pelos grandes grupos econômicos, do agronegócio ao turismo.
Todos se dizem preocupados com a preservação do meio ambiente. No entanto, criticam o atual governo federal e seus órgãos competentes quando eles combatem os grileiros que desmatam, queimam florestas e se apropriam de terras em várias regiões do país.
Não é para menos. O Brasil é o país onde mais se mata os defensores da natureza. Chico Mendes, Dorothy Stang, Bruno Pereira e Dom Phillips são só os nomes mais conhecidos entre dezenas de mortos.
Todavia, todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas não há prefeito brasileiro que se destaque na política de arborização como se fez em Medellin, na Colômbia.
Lá foram instalados corredores verdes, com mais de 2,5 milhões de plantas menores e 880 mil árvores plantadas em poucos anos, o que reduziu a poluição e melhorou a qualidade de vida da população.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas não se vê vereadores ou deputados criando leis para estimular moradores e comerciantes a cultivarem espaços verdes ou, ao menos, plantar uma árvore na frente de casa ou do comércio.
Pelo contrário, muitas donas de casa não querem plantar árvores para não terem que limpar a sujeira das folhas e comerciantes não querem árvores em frente aos seus estabelecimentos porque as copas tampam os letreiros e impedem a propaganda.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas não há educação ambiental nas escolas, apenas pequenos projetos isolados em períodos específicos.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas continuam colocando fogo para queimar o lixo ou lavando as calçadas com mangueiras.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas há cidades que não respeitam a lei para coleta e destinação correta do lixo, não há políticas efetivas de reciclagem.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas compram sem necessidade, em um exercício exagerado de consumismo, acumulando bens desnecessários que nem precisariam ser produzidos. A montanha de roupas descartadas no deserto do Atacama é só um exemplo.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas se recusam a adotar hábitos ecologicamente corretos, comprando produtos biodegradáveis, por exemplo.
Todos se dizem preocupados com o meio ambiente, mas a grande verdade é que ninguém entendeu ainda que para continuarmos vivos, temos que mudar, drasticamente e agora, a nossa maneira de existir na Terra. Porque, acreditem, ela sempre vai continuar existindo, mas nós? Não há certeza sobre isso.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, especialista em Metodologia Didática, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA Internacional em Gestão.
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