Verdade e amor se encontram! Sábia intuição do salmista que induz a compreender que a verdade despida de equilíbrio reúne plenas condições para se transformar em letal arma. É louvável a urgência com que se busca alcançar a verdade, em especial a verdade sobre o sentido do universo, e em particular, sobre o sentido da existência humana. De onde emana essa ânsia de encontrar o fio condutor na complicada teia que se chama vida. A mente humana reconhece que somente encontrará luz e liberdade, descanso afinal, quando chegar ao conhecimento da verdade.
O atual estágio da civilização, tão repleto de informações e tão profícuo em possibilidades de pesquisas, paradoxalmente, torna particularmente laboriosa a busca pela verdade primordial, a verdade sobre o sentido da existência. Vive-se, em tempos modernos, um fenômeno interessante, embora altamente complicador, a predominância da verdade subjetiva. Verdade é aquela posição ou doutrina que o sujeito decide ou escolhe aceitar como absoluta e definitiva. Fica evidente que neste contexto de exacerbado individualismo o diálogo, a troca de informações, o debate enfim, tornam-se tarefas particularmente delicadas. Pois não sobra espaço nem disposição para ouvir opiniões contrárias e avaliar perspectivas diferentes. Sem consideração pelo dissemelhante, sem respeito por quem pensa diferente – sem equilíbrio e serenidade, em suma – não há como alargar horizontes, não há como chegar a balizadas conclusões. A arrogância nunca é tutora confiável na busca pela verdade.
A sincera busca pela verdade transcendente, aquela que não está atrelada à prévias e particulares preferências, se manifesta na pressuposta disposição, sensata e serena, de ouvir. Muitos almejam, sim, chegar à verdade, mas têm medo de ouvir. Apelam à pressa! A busca pela verdade, a habilidade de escutar, demanda renúncias, disciplina, persistência, constantes revisões, progressivos amadurecimentos, abertura incondicional. A história do pensamento humano está repleta de figuras que encontraram respostas para as suas inquietações em situações fortuitas e improváveis interlocutores. Até o Todo-poderoso recorreu a um burro para transmitir sua mensagem a Balão (Nm 22).
Penoso é o caminho que leva à verdade. Quem se dispõe a enfrentar o desafio aprende a dosar a paixão com a prudência, o ímpeto com a reverência, o afã com o profundo respeito pelo outro. Ciente do custo e do sacrifício, acima de tudo compenetrado do inestimável valor da verdade, quem a vislumbra cerca-se de prudência para enunciá-la, reveste-se de serenidade para a defender, cinge-se de discrição para não a transformar em arma que fere. A verdade nunca pode servir como arma para chantagear. Tampouco para ferir e matar. Na sua transcendente constituição, a verdade essencialmente ilumina, inerentemente liberta. A verdade somente faz par com o amor!
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba.
Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.