OPINIÃO

Basta!

Por Ayne Salviano | Especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 3 min
Tânia Rêgo / Agência Brasil
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania
Silvio Almeida, ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania

Resumo da semana: uma mulher casada foi estuprada 92 vezes por homens escolhidos pelo próprio marido. Uma atleta olímpica morreu queimada após ter seu corpo incendiado com gasolina pelo ex-companheiro. E um ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania está sendo acusado de assediar a colega de trabalho, a ministra da Igualdade Racial.
Vamos aos fatos: A francesa Gisèle Pélicot é uma senhora de 72 anos. Ela foi casada com Dominique Pélicot por 50 anos. O casal teve três filhos e sete netos. Viveram todo esse tempo como uma família tradicional. 

Em 2020, quando Dominique foi detido pela polícia porque estava filmando as partes íntimas de mulheres que usavam saias em um supermercado, a francesa descobriu que foi drogada pelo atual ex-marido por aproximadamente 10 anos para que estranhos a estuprassem. 

Segundo os policiais que encontraram as provas no computador de Dominique, Gisèle foi violentada 92 vezes entre 2011 e 2020. O ex-marido confessou ser culpado de todas as acusações. E mais de 50 homens, entre 26 e 74 anos, de perfis diversos, também estão sendo julgados na França. 

Gisèle renunciou ao seu direito de anonimato. Ela não quer que isso se repita com outras mulheres. Quis que o julgamento não acontecesse a portas fechadas justamente para expor seus agressores.

De acordo com as investigações, o ex-marido não pedia dinheiro em troca e os acusados não sofrem patologias psicológicas significativas, embora tenham um sentimento de "onipotência" sobre o corpo feminino, segundo especialistas. Todos sabiam que ela estava drogada e o ato sexual era sem o seu consentimento e nenhum desistiu de violentá-la.

Já a maratonista ugandesa Rebecca Cheptegei, que competiu recentemente nos Jogos Olímpicos de Paris, morreu aos 33 anos, no Quênia, dias depois de ser internada com graves queimaduras em 80% do corpo. Ela foi atacada pelo ex-companheiro Dickson Ndiema Marangach depois que voltou para casa da igreja. Ele derramou uma lata de gasolina sobre ela e ateou fogo na frente dos dois filhos, de 9 e 11 anos. 

No Brasil, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, foi acusado pela organização Me Too Brasil de assédio sexual contra várias mulheres, entre elas a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Até o momento, a ministra não fez nenhum pronunciamento sobre o assunto. Esse silêncio diz muito.

Enquanto escrevo, leio que o presidente Lula terá uma reunião com os dois ministros do seu governo agora a tarde. O mais provável é que Silvio Almeida, doutor em Direito e professor, seja demitido antes da apuração da denúncia. Ele nega as acusações e pede uma investigação rigorosa sobre o assunto.

Talvez Silvio Almeida seja culpado, talvez não. Só uma apuração dos órgãos competentes poderá esclarecer os fatos. Mas, comparando essa acusação de assédio sexual com a morte por queimadura da atleta ou os 92 estupros da senhora francesa, pode parecer que a violência contra a mulher tem diversos graus e alguns poderiam ser menores do que outros. Mas a verdade é que isso não é possível.

A sociedade cria maridos que permitem que outros homens estuprem suas mulheres ou matem suas mulheres porque não pune rapidamente e exemplarmente os homens que cometem as outras violências não fatais. Basta!

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, especialista em Metodologia Didática, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA Internacional em Gestão.

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