
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) vê "perigosa proximidade" entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o vereador de Araçatuba Antônio Edwaldo Dunga Costa (União Brasil), segundo reportagem do Estadão desta sexta-feira, 6. Dunga foi preso na manhã de sexta-feira por porte ilegal após a Polícia encontrar em seu quarto uma arma com numeração raspada e posteriormente solto, neste sábado, 7, após audiência de custódia no Fórum de Araçatuba.
Policial civil aposentado, Dunga é peça importante no jogo político da cidade: já foi cinco vezes presidente da Câmara e é também diretor da Associação dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo.
Sob o título "Promotoria diz que vereador Dunga tem ligação com PCC na 'esquina maluca' de Araçatuba", a matéria
A Promotoria vê infiltração do PCC na 'cena política' da região, e Dunga seria, nessa investigação, um elo relevante. Os investigadores suspeitam que Dunga "se envolve diretamente em questões afetas ao crime organizado" na região de Araçatuba.
“O que nos gerou grande preocupação foi a participação muito próxima do indivíduo assessor parlamentar por muito tempo que ocupou o cargo de chefia de gabinete, junto ao tráfico de drogas aqui na região, bem como a organização criminosa Primeiro Comando da Capital”, disse o promotor de Justiça Carlos Bruno Gaya ao Jornal da Band.
"Sou igual massa de pão", diz Dunga
Em vídeo em rede social, Dunga atribuiu a um ex-assessor que teria deixado o cargo "há dois anos e pouco", sem mencionar nome, o alvo de mandado de busca e apreensão na operação "Ligações Perigosas", deflagrada pelo Gaeco e pela Polícia Civil na manhã desta sexta-feira em Araçatuba.
“Estou firme, sou igual massa de pão, quanto mais bate, mais eu cresço”, diz Dunga na publicação, gravada na manhã de sexta-feira, "sentado na clínica". Ao final, ele conclama os eleitores a "fazer do limão, limonada".
Dunga diz que "o ser humano está cheio de maldade", procura tranquilizar os eleitores dizendo que está bem e não está associado a tráfico de drogas nem a homicídios. “Se fui alguma vez em porta de delegacia foi como advogado para defender algum cliente”, disse. Dunga disse ainda que nada foi encontrado na Câmara, na clínica "tem dinheiro sim" [foram apreendidos R$ 26 mil em espécie] e que ele tem arma porque é policial [a arma foi apreendida por estar com a numeração raspada].
Como o vereador araçatubense entrou na mira do MP
Dunga entrou na mira do Ministério Público de São Paulo após seu nome ser mencionado por Felipe Malaquias, o 'Cocão', apontado como responsável pelo 'Progresso' do PCC - tráfico de drogas - em São José, um bairro de Araçatuba.
Em uma conversa, Felipe citou um ex-assessor e aliado de Dunga, de nome Arlindo, que estaria dando apoio ao irmão de Paulo Giovane de Aguilar, também ex-assessor de Dunga e que é um dos alvos da Operação 'Ligações Perigosas' sob suspeita de "envolvimento direto" com o PCC e o tráfico de drogas.
Segundo o MP, o irmão de Aguilar, conhecido por "Lê" ou "Jogador", é integrante do PCC e um dos líderes do tráfico na chamada "Esquina Maluca" identificada assim pela Promotoria. O local seria uma boca de venda de drogas do PCC em Araçatuba situada a "poucos metros" de duas escolas municipais. Ainda segundo o MP, seu grupo rivaliza com os traficantes do 'Paredão', controlados por outra família.
Segundo a mesma reportagem, Aguilar é associado ao irmão e outros traficantes da "Esquina Maluca". A Promotoria cita uma 'guerra' entre as duas quadrilhas, envolvendo tentativas de homicídio e um "ciclo de vingança" que gerou uma onda de mortes na cidade e na região.
Os promotores do Gaeco dão ênfase a uma ligação interceptada no dia 12 de julho, quando Aguilar relata uma tentativa de homicídio ligada à guerra pelo controle do tráfico de drogas no bairro São José. Segundo a Promotoria, o diálogo "demonstra que os principais criminosos do local atuaram de forma ativa na campanha de Dunga, que possui plena ciência da atividade criminosa de Paulo Aguilar e de seu irmão".
Os investigadores também resgataram uma conversa em que Aguilar repassa um pedido de "Malaquias", liderança do PCC e da "Esquina Maluca", a Dunga.
Grampos telefônicos também fizeram a Promotoria levantar suspeitas sobre outros crimes atribuídos a Dunga. Segundo o MP, o vereador usa seu cargo e consegue favores a terceiros por meio da influência que supostamente teria na prefeitura de Araçatuba.
Os investigadores citam casos em que o parlamentar teria interferido para agilizar um exame criminológico e atuado para liberar a vistoria de um prédio. De acordo com o MP, as conversas indicam a possibilidade de atos de improbidade e crimes contra a administração pública praticados por Dunga.
Matéria atualizada às 12h50
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