Opinião

Belo


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“Unir não dividir”! Com essas palavras, o Papa Francisco festejou a inclusão do verbete COMMUNITER no moto da tradicional bandeira olímpica. Além dos conhecidos registros – CITIUS – ALTIUS – FORTIUS – mais rápido, mas alto, mais forte – o Comitê Olímpico Internacional (COI) elegeu adicionar, em 2021, o COMMUNITER – juntos – com o objetivo de estimular ainda mais a inclusão e promover a aproximação entre os povos. Nada melhor para congregar as pessoas do que o genuíno espírito esportivo. Na realização dos atuais jogos, o Papa Francisco apoiou a realização de uma Missa na Igreja da Madeleine, em Paris, evocando a milenar trégua de paz.
Em sua mensagem, o Papa Francisco, conhecido entusiasta pelo esporte, expressa seu desejo de que os jogos resgatassem a original alma a inspirar o evento. Sirvam os jogos olímpicos como ocasião propícia para incentivar a harmonia fraternal entre os participantes, superando diferenças e favorecendo o congraçamento entre os atletas, escreveu. As diversas modalidades de esportes se expressam em linguagem que ultrapassa fronteiras, quaisquer fronteiras, sejam elas geográficas, linguísticas, raciais, de gênero, de idade, de religião inclusive. O esporte congrega, alimenta o diálogo, incute o respeito pelo outro. Substitui as diferenças pela fraternidade. Em sua mensagem, o Santo Padre externa o ardente desejo que a realização dos jogos, nesses tempos sombrios, sirva de inspiração para resolver conflitos e restabelecer harmonia entre as nações.
A descontração dos atletas no desfile de abertura, o entusiasmo compartilhado durante o ritual do acendimento da pira olímpica confirmavam a aspiração de que sempre é possível um convívio harmonioso entre os diversos e os diferentes quando há um ideal transcendente e comum. Lamentavelmente, este contexto promissor de aproximação, evidente igualmente, nas várias competições esportivas, ficou obscurecido por uma polêmica apologética em torno de uma representação que, segundo alguns cristãos, fere sentimentos religiosos. Os responsáveis pela encenação negam veementemente qualquer intenção de provocação religiosa. Pedem desculpas públicas, inclusive, pelo mal entendido. De qualquer forma, a imediata, difusa e irascível reação, paradoxalmente por parte de cristãos, induz a refletir sobre a gravidade da polarização que anda tomando conta de vários segmentos da sociedade. Nenhuma representação, nenhum discurso está livre de leituras oblíquas e interpretações distorcidas. Excessivo é o melindre, paranoica a sensibilidade! Paradoxo outro, curioso e lamentável, o enaltecido espírito olímpico de superação de diferenças ficou obscurecido por conta de uma representação que além de gosto duvidoso denuncia evidente indigência criativa.
Em ambiente de sombras, mais luzes! Contra a espalhafatosa apelação, o sereno esplendor do belo!      

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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