CRÔNICA

Jorgina

Por Tito Damazo | Especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 5 min

Os jornal tem boas notícia? Ah..., é só morte, violência, né não? Essas guerra que destrói tudo, os prédio, as pessoa, os bicho... Esses assaltante não deixa ninguém mais em paz. Eu malemá consigo ler umas coisinha. Daí nem tento.A gente sempre morônuns cafundé do judas. Era enxada de sol a sol. Café puro e rapadura. Tendo arrois e fejão era sempre um graças a Deus. Umas galinha e uns franguinho que a gente podia criá, e os miúdo dos capado que quando o patrão mandava matá podia ficá pra gente. Mais nada, só vendo! Adispois que o pai arresorveubandeá pra cidade, nóis já era tudo crescido. Tinha mais que pensá em escola, não. Era caçá serviço de servente de pedrero, carregadô de carga de camião. Eu, mais minhas duas irmã... se acabô que arrumemo pra trabaiá de doméstica.

-- Eu casei, não. Eles foro... uns casando, otros se juntando. Fui ficando mais pai e mãe, tomano conta deles. Adispois que eles morrero, fiquei sozinha mesmo, morando naquela casinha que pai pagô durante trinta ano de financiamento da CaxaEconômica. Eles concordaro de ficápra mim morá, porque fiquei sempre morano e cuidando do pai e da mãe. Eles cairo no mundo. Adispois que pai e mãe morrero, até hoje, faiz mais de quinze ano, até agora nunca mais sobe o que é de um deles.

-- Pois, então. Sempre fui muito doentinha. Os trabaio de doméstica me distratava cada vez mais. Um monte de cômodo pra limpá, uns móvel pesado, minha saúde só piorando. Foi aí que um dia discobri, que um vizinho meu, trabaiava assim, de catar papelão, era assim que se dizia, era catadô de papel. Aí deve de ter ficado com dó da minha magreza, e me levô pro patrão dele. Então passei a catá reciclage. É assim que se diz hoje em dia, né?

-- Já tem anos que tou nessa lida. É mais leve, sim, mais é muito cansativo. Tenho que andar por aqui tudo desses bairro. Minhas perna e as costa já andam doendo e não é poco, não. A gente precisa juntábastante material pra podê ganháuns tostão melhorzinho. Mais não tenho do que reclamar, não. As pessoa são muito boa comigo, assim como o senhor e sua esposa. Eu fico muito agradecida por isso. Eu tenho bastante pessoas que guarda esses reciclado pra mim, assim como vocês.

-- Óia só!... Eu fico tão agradecida, por vocês ser assim comigo. Eu nem podia imaginar umas coisa dessa. É verdade, o senhor tem razão, acho que os outro que me dão as coisa deve de pensar assim também. Não  pro camião da reciclagem, pra guardá pra mim. Gente!, óia, mais não é isso mesmo!? O senhor acabô me fazeno sabê que eu até tenho que agradecê também pra eles por isso. Acho que eles faz a mesma coisa, né? Poxa vida! Muito agradecida, viu. Ah! Tem otra coisa, viu, que pra mim é uma coisa que me deixa comovida. Sua esposa, virou e mexeu me presentia com coisas de comê, doce que ela faiz, umas fruta. Até me deu um pão que ela mesmo faiz! Gente, Deus sempre que pague vocês por isso, viu. Eu lembro que a primeira vez que ela me ofereceu uma coisa assim, perguntôse eu aceitava, e era pra mim não levar isso como ofensa. Que fazeno isso ela não queria me ver como se não tivesse nada e tava me dando esmola. O senhor vê só? Magina! Nada eu nunca tive, não tenho, e nunca vô tê mesmo. Mais faço meu trabaio, que eu não preciso esmolá, não é mesmo? Agora, pensá isso de vocês, não! Ave, Maria! Sei muito bem que isso é uma ajuda de quem se preocupa com osotro.

Não! Onde se viu?! Eu até troxe pra ela, como um jeito de agradecê, né?, uma ou outra coisinha... limão cravo, que ela ficou muito satisfeita, falanoque vocês gosta muito dele, e melhor ainda quando falei que é do pé que a gente tem prantado lá no pedacinho de quintal da nossa casinha. Longe de mim achá que aquilo vai acrescentá pra vocês, é mesmo mais pra agradecê do meu jeito. Isso no antigamente, nóis da roça tinha mesmo como obrigação de logo, logo dá alguma coisa de volta de agradecimento pelo recebido. Às vez, quando não tinha nadinha que pudesse servi pra devolvê no vasilhame, coisa que prestasse, a gente segurava um dois dia, bateno cabeça pra arranjá uma coisa pra intregá o vasilhame de volta com um agrado de agradecimento. Lá era muito assim. Mudou muito, né? Aqui o que faz os vizinho que nunca nem dá bom dia, boa tarde, nem olha pra gente ou então de rabo de zoio, acho que achando sempre que a gente, até uma pessoa como eu, desse tamaninho e com essa minha magreza... Ah!... dexa pra lá. Ainda bem que nem tudo é assim, né?

-- Ah!, foi? Então, não vim esse tempo todo, por causa de duença mesmo. Mais não tem portância, não. O povo do camião do reciclado também tem precisão, né? O senhor sabe, quando o senhor começou me dar jornal assim, eu perguntei pra uns outro que sei que é também adevogado, outro que é professor igual vocês, se eles também num tinha jornal de leitura. Então eles falaro que isso não existe mais, é coisa do passado. Daí eu falei que o senhor lia, sim, e adipois me dava. Não falei o nome do senhor, não, fica sossegado. Ele riu. E falô que sempre fica uns dinossauro com as mudanças. Eu não intendi direito, ele falô que não tinha importância, não, só tava brincano. O senhor intendeu por que será? Era brincadera mesmo, ne? É verdade. É tudo na internet hoje em dia, né? Eu não gosto, não, mais fazê o quê, né? 

-- Tá certo. Então tá bom. Até otro dia. Minhas lembrança pra senhora sua esposa.

Tito Damazo é professor, doutor em Letras e poeta, membro da UBE (União Brasileira de Escritores) e membro da AAL (Academia Araçatubense de Letras)

 

 

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