Calma, leitores, especialmente os fãs de Neymar. O título é apenas uma estratégia para chamar a sua atenção. A referência ao placar da semifinal da Copa do Mundo de Futebol de 2014 entre Brasil e Alemanha, resultado que até hoje serve de metáfora para uma derrota devastadora, quer provocar em você uma reflexão para saber quem ganhou, na opinião pública, o embate sobre a privatização das praias brasileiras.
Não desejo travar aqui nenhuma luta de gênero, embora já avise, antecipadamente, que ela aparecerá por conta, inclusive, do repertório (minguado) do argumentador-homem, no caso Neymar. O verdadeiro objetivo do texto, acreditem, é analisar a capacidade argumentativa de duas pessoas que pretendem opinar sobre o mesmo tema em lados opostos.
O fato. A ex-modelo agora atriz, apresentadora e produtora teatral Luana Piovani postou um vídeo em suas redes sociais que viralizou. Nele, ela fazia críticas ao jogador de futebol Neymar após ele declarar apoio a uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) cujo relator, o senador Flávio Bolsonaro, sugere a privatização das praias brasileiras.
Um esclarecimento necessário. Segundo a Constituição brasileira, a costa marítima brasileira é responsabilidade da Marinha. Caso a PEC seja aprovada no Senado, milionários poderão comprar seus pedaços de praia e tornar o local privado, sem acesso do povo. Essa proposta já foi aprovada na Câmara em 2022. Estava parada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado desde agosto de 2023. Agora ela está em discussão, mas não há data para votação ainda.
Importante contextualizar. O relator não surpreendeu com seu voto porque está sendo fiel a uma propositura do próprio pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que desde a campanha de 2018 deseja “transformar o Brasil em uma Cancun”, referindo-se à possibilidade da implantação de hotéis e cassinos nas praias brasileiras.
Nesse aspecto, o apoio de Neymar também não surpreende porque ele está intimamente interessado no assunto. Segundo a revista Veja, o jogador é sócio de um empreendimento que quer transformar um trecho de 100 quilômetros do litoral nordestino no “Caribe brasileiro”. O projeto da Due Incorporadora prevê a construção de 28 imóveis de alto padrão entre os litorais sul de Pernambuco e norte de Alagoas, cujo faturamento é estimado em 7,5 bilhões de reais.
Não sejamos ingênuos. Que ex-presidentes, senadores e milionários defendam seus interesses, isso faz parte do jogo no cenário político brasileiro. O problema que queremos abordar aqui está na discussão desses fatos.
Enquanto Luana criticou Neymar por defender interesses próprios em detrimento da população, o jogador apenas tentou desqualificar Luana com machismo e misoginia. Foi etarista quando disse que ela era velha (ela tem 47 anos, ele tem 32), xingou-a de louca porque ela fala o que pensa e está longe do modelo “recatada e do lar” e insinuou que Luana estava fazendo escândalo para chamar a atenção dele porque queria “dar pra ele”. Ou seja, argumento nenhum, apenas falas destrambelhadas de uma mente sem argumentos.
E é sobre isso que precisamos discutir. Quem não tem argumento ataca e foge do diálogo. Quem não tem argumento xinga para intimidar. Homem que não tem argumento tenta desqualificar a mulher seja por etarismo seja por padrões estéticos ou qualquer outra questão de gênero.
Ou seja, no jogo de uma discussão racional e lógica entre Luana versus Neymar, quem perdeu foi o jogador. Não faltaram apoiadores da atriz para lembrar aquilo que ele, enquanto figura pública, prefere esquecer, como as recentes traições a esposa, a sonegação de impostos que o jogador pediu ajuda para Bolsonaro e até o caso mais recente de ajuda financeira para libertar Daniel Alves, estuprador condenado pela justiça italiana.
Em resumo, é possível ter opiniões diferentes sobre um mesmo fato. O que vai diferenciar os debatedores é o uso adequado e a qualidade dose argumentos.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica. Especialista em Metodologia Didática, com MBA Internacional em Gestão.
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