DRAMA DO CRACK

Mini ‘Cracolândias’ se espalham por centro e zona sul de São José

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Reprodução
Usuário de crack
Usuário de crack

“Se você encontrar meu filho dê um abraço nele”.

O recado veio de uma mãe usuária de drogas em São José dos Campos para uma assistente social da cidade. Aos 56 anos, a mulher tem dois filhos na casa dos 20 que também são dependentes químicos como ela.

Os três vivem em situação de rua na maior cidade do Vale do Paraíba. Cada um deles está em uma das ‘mini cracolândias’ que se espalham pelo município.

“É um drama social complexo e difícil de resolver. Para tirar esse pessoal das drogas, do álcool e das ruas tem que ganhar a confiança deles e fazê-los querer se libertar”, disse a assistente social.

OVALE conversou com assistentes sociais, policiais e voluntários de organizações que atendem dependentes químicos e pessoas em situação de rua em São José para traçar um mapa dessas ‘cracolândias’.

MAPA DAS CRACOLÂNDIAS

A maior parte delas está na região central e sul da cidade, em pontos como o entorno da Rodoviária Nova, a Praça do Sapo, em ruas próximas à avenida Nelson D’Ávilla e outras vias do centro.

Na zona sul há ao menos seis pontos de concentração de usuários de drogas entre o Jardim Satélite e o Campo dos Alemães: perto da Paróquia do Espírito Santo, na praça José Carlos Bastos, próximo à agência da Caixa Econômica Federal, nas proximidades do PEV Bosque dos Ipês e chegando ao Campo dos Alemães.

Um dos pontos mais conhecidos fica na Estrada do Imperador, na região sul, na antiga ocupação do Pinheirinho. Frequentam aquele espaço, segundo voluntários, de 25 a 30 pessoas, sendo que algumas delas chegam de outras cidades para consumir crack.

Também há pontos de concentração de pessoas em situação de rua nas regiões leste, norte e sudeste, mas seriam em menor número. Um policial ouvido pela reportagem disse que os usuários procuram estar perto de pontos de venda, as biqueiras, mais numerosas nas regiões sul e central.

“São dependentes de álcool, crack e cocaína. Tantas histórias de cair na rua. Tem um que está lá [no Pinheirinho] e é engenheiro. Uma mulher que está na rua já morou na Itália e entrou no vício. Acaba que por desgosto da vida eles vão para a rua, e têm que usar drogas para enfrentar as ruas”, disse outra assistente social.

Segundo ela, o perfil de usuários em cracolândias vem mudando com o tempo, deixando de ser de maioria masculina e de mais idade para pessoas mais jovens e cada vez mais mulheres, além de homossexuais e transexuais. Muitos deles trabalham vendendo entorpecentes para manter o vício.

APOIO SOCIAL

São José dos Campos é considerada uma das cidades com a mais bem estrutura rede de proteção social do país, com equipamentos, pessoal técnico e casas de acolhimento. O desafio é convencer os usuários, dependentes e moradores de rua a deixar a vida errante e aceitar o tratamento.

A Secretaria de Apoio Social ao Cidadão de São José informou que a cidade “possui um dos mais bem estruturados programas de acolhimento de pessoas em situação de rua, um problema social crescente que tem reflexos não apenas na região, como no país e no mundo”.

O serviço conta com 10 vans e três carros de suporte. A equipe de abordagem é qualificada e conta com agentes e educadores sociais que atuam 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados, segundo a pasta.

“Os abrigos municipais estão preparados para receber todos que estão em situação de rua, com acomodações confortáveis, incluindo canis e gatis, e equipe multidisciplinar. A pessoa que aceita ajuda é levada ao Centro Pop, onde é feita a triagem e o encaminhamento para o local adequado.”

A pasta disse também que a prefeitura oferece oficinas e atividades de convívio e socialização com o objetivo de ajudar os ex-moradores em situação de rua a voltarem para o mercado de trabalho, resgatarem suas cidadanias e dignidades e escreverem novos projetos de vida.

“Para conscientizar a população, a Prefeitura realiza uma campanha permanente ‘Não dê esmola, dê cidadania’, onde o munícipe pode ligar no 153 e acionar as equipes sociais para acolher esses moradores, que muitas vezes precisam de um tratamento.”

PROTEÇÃO AO CIDADÃO

Sobre as ‘mini cracolândias’, o secretário de Proteção ao Cidadão de São José, Bruno Henrique dos Santos, disse que essa é uma realidade mundial e que diariamente há uma ação conjunta da GCM (Guarda Civil Municipal) com a Polícia Militar para combater o tráfico.

As pessoas abordadas e que querem tratamento são acolhidas pela equipe social e àquelas com problema com a Justiça ou que estão portando drogas são “responsabilizadas pela Guarda Municipal e pela Polícia Militar e conduzidas à autoridade policial”.

“Esse trabalho diário é feito aqui em São José, inclusive para identificar os possíveis traficantes, os locais que são utilizados para o consumo de drogas. Aqui nós fazemos ações para demolir esses imóveis quando estão colocando em risco até mesmo a vida dessas pessoas”, disse Santos.

As demolições de imóveis abandonados e utilizados como ‘cracolândias’ são baseadas, segundo o secretário, em relatórios da Defesa Civil.

“Demolimos imóveis no Campus dos Alemães, na região central, na Rui Barbosa, que era imóvel exclusivo para o uso de entorpecente e venda. Nós demolido o imóvel. Então, essas ações são contínuas e diárias pela cidade.”

Segundo ele, é preciso questionar “qual é o papel da sociedade” nesse drama social. “O tráfico de drogas existe porque existe o consumidor. Nós temos que ter uma conscientização maior da sociedade com relação ao uso de drogas que ainda no Brasil não é permitido, e tem que responsabilizar cada vez mais essas pessoas”.

Santos afirmou que é preciso evitar que os usuários e traficantes “tomem conta desses espaços”. “Estamos fazendo ações diariamente pela cidade em vários pontos que a gente identifica, que tem esse tipo de comportamento de uso de entorpecente com venda de entorpecente”.

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