OPINIÃO

Sem limites

Por Padre Charles Borg | especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 2 min

Suicídios traumatizam! Particularmente arrasadoras quando seus autores são jovens! Médicos, psicólogos e psicanalistas asseguram que esse recurso extremo sempre está cercado de questões complicadas, de difícil prevenção. Previsível, obviamente, a dolorosa perplexidade no sentimento e na cabeça dos familiares enlutados. Agudos questionamentos torturam o pensamento, apontando possíveis descuidos, sugerindo faltas de afeto adequado, culpando omissões de aproximação. Agrava o complicado quadro desolador a silente, e difusa, mentalidade que considera o suicídio um pecado sem perdão. Casamento, vida social, fé, tudo desmorona! Abalo total!

Compreensível, a dor de familiares e parentes é particularmente aguda. Indagações sem resposta torturam e arrasam. Na maioria dos casos, contudo, em especial em ambientes de tradicionais princípios religiosos, parentes próximos buscam luz e conforto sobrenaturais capazes de aliviar tormentos espirituais. A suspeita do suicida enfrentar a ira divina abala a sensibilidade e deixa desesperados parentes piedosos. Urge recordar, e com convicção, que a misericórdia divina é infinita e incomensurável. Rechaça-se, de pronto, o temor de condenação automática e eterna. Se a ciência humana entende que a agressão contra a própria vida seja um ato de extremo desespero, condicionado a fatores somente compreensíveis ao próprio agente, quando mais Deus não seja capaz de compadecer-se de tão desesperado agente! O julgamento final de todo ser humano cabe somente a Deus, sempre rico em ternura e compaixão! Ensina a tradicional moral cristã que, independentemente da maneira que morre, alma alguma fica privada da misericórdia divina. Coerentemente, o zelo pastoral recomenda vivamente que se ofereça aos familiares assistência espiritual fundada e alimentada na Palavra de Deus que, repetidamente, assegura a vontade de salvar todas as pessoas.

Emerge a importância da salutar intervenção da comunidade religiosa junto à família desconsolada. Previsível é que familiares e parentes se encolham. Receiam indagações indiscretas e curiosidades mórbidas que prestam somente para perpetuar a dor e reforçar o sentimento de culpa. Zelosa, a comunidade deve se sentir chamada a agir não com discursos piegas, mas com presença genuinamente solidária. Coração ferido se medica com o bálsamo de um abraço, se reabilita com o conforto de presenças solidárias!

A morte abala. Traumatiza quando acontece de forma trágica e inesperada. A ressurreição do Senhor Jesus, no entanto, oferece novo entendimento sobre o sentido e a dimensão da vida. A fé em um Deus, cuja bondade é sem limites, representa adicional motivo de confiante esperança e fundado consolo. Crente, coerente e confiante, a Igreja apela incessantemente à ternura divina e suplica ao Pai que acolha a todos em sua eterna morada, inclusive aos cuja fé somente Ele reconhece!    

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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