CRÔNICA

The Raldo

'Ziraldo foi sua própria persona, inclusive, ele mesmo, um 'moleque maluquinho'.' Leia a crônica de Jeremias Alves Pereira Filho

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 14/04/2024 | Tempo de leitura: 2 min
especial para a Folha da Região

Reprodução/Instagram

O filho da Da. Zizi e do “seo” Geraldo, de Caratinga/MG, só podia se chamar... Ziraldo, a conjunção de Zi, da Zizi, e Raldo, do Geraldo. Muito comum acontecer dessa maneira há 100 anos atrás, no interiorzão das Gerais, juntando parte dos nomes do casal para batizar o filho, especialmente o primogênito. E foi assim com Ziraldo, que nasceu em 1932 e viveu muitos e produtivos bons anos - quase 92 -, e só parou agora porque foi parado pela “falência múltipla” dos seus órgãos vitais, impulsionada pelo AVC que sofrera em 2018, do qual chegou razoavelmente se recuperar, malgrado as sequelas naturais causadas pelo danoso evento. Este, muito certamente, o único obstáculo que não venceu na sua vitoriosa vida.

De Caratinga a Belo Horizonte, passando por São Paulo e Rio, depois New York, Londres Paris...o Mundo. Todos perderam excepcional artista e melhor persona. Sim porque Ziraldo foi sua própria persona, inclusive, ele mesmo, um “moleque maluquinho”. Brincou seriamente o tempo todo na vida, desde moleque mesmo e ainda como há pouco tempo brincava. E com ele próprio e sempre, como fazia com personagens nos quais se autoprojetava. Todos alegres e de bom caráter. Teve coragem para “brincar” com a Ditadura Militar no seu O Pasquim – dele, do Jaguar, do Tarso de Castro, do Millor... - e amargou três meses de cana com a diretoria do “jornaleco”, como eles mesmos o chamavam, sem deixar a peteca cair, produzindo no cárcere memoráveis charges e cartuns a lápis e sobre qualquer folha de caderno que parasse nas mãos. 

Toda a imprensa nacional e estrangeira já destrinchou a bela vida do Ziraldo e quase nada escapou dos repórteres e críticos de arte, além dos incontáveis amigos que sabem detalhes não muito conhecidos do público em geral. Todos publicáveis, pois Ziraldo nunca foi persona oculta. Entre tudo que o Ziraldo fazia e gostava, tinha eu particular admiração pela sua capacidade de lidar com letras soltas e juntadas para produzir sonoridade e grafismo. Como disse, é coisa de criança, mas na cabeça do Ziraldo, era coisa do Ziraldo. 

Fan dos Comics americanos, não perdia uma só edição do Superman, depois abrasileirado para Super-Homem, numa tradução óbvia. Pois não é que, tomando Da. Zizi como inspiração, criou o personagem Da. Clotildes para viver o papel da hilária The Supermãe... Se tivesse prêmio, o  Ziraldo seria Campeão de Homonímia. O que dizer de “Sir Aldo”, cuja assinatura bolou num momento em que a Rainha da Inglaterra andava distribuindo a honraria britânica a granel? E quando a mania de usar palavras em inglês invadiu de vez o cenário tupiniquim? Ziraldo não se conteve: trocou seu Ziraldo por The Raldo! 

Saaravá, The Raldo!

Jeremias Alves Pereira Filho é sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie. Araçatubense nato.  

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