CRÔNICA

O ancestral do boi

Aprendi alguma coisa bisbilhotando conversas entre pecuaristas e boiadeiros na praça Rui Barbosa, então chamada Praça do Boi. Leia a crônica de Jeremias Alves Pereira Filho.

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 31/03/2024 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para a Folha da Região

Agência Brasil/Arquivo

Desde moleque conheço boi, vaca, bezerro e boiada, esta quando toda a parentada junto. Naquela remota época, boi para mim era apenas boi. Isto é, um animal que virava bife e que minha mãe, a professora Leonor muito bem fazia acebolado com alho e pimenta, para o deleite(aaaargh!) da família. Acompanhava arroz tio João, feijão Fradinho e mandioca frita. Não precisava de mais nada. Para refrescar o calor africano local, na mesa sempre uma jarra de vidro suada de gelo contendo preciosa limonada, espremida com o exclusivo limão da terra.

Antes do boi, imaginava eu existir o bisonte. Mamute não, porque esse era da família do elefante. Mas devia ter vivido em tempo similar, pensava ignaro pivete, cujos conhecimentos eram – são? – parcos. O que sabia a mais aprendi observando nas fazendas da minha infância, especialmente a de Auriflama, da tia Marica, irmã do meu pai, o jornalista Jeremias, da Tribuna da Noroeste, que, de boi, só conhecia as partes comestíveis. 

Também aprendi alguma coisa bisbilhotando conversas entre pecuaristas e boiadeiros na praça Rui Barbosa, então chamada Praça do Boi. Lá, ninguém falava sobre outra coisa senão dele próprio, o boi. Era Zebu, Nelore, Gir, Guzerá...  Bezerro, novilho, pasto, invernada, boi em pé, abate, arroba, frigorífico e açougue.

Outro dia caiu no meu colo a história do “Bos Primigenius”, ou seja, o boi primordial, em porca(ôpa!) tradução do latim para o araçatubês. Era o Auroque, animal de porte 3 vezes maior que o boi atual, com 2 metros de altura por 3 metros de comprimento e pesando, fácil, cerca de 1.500kg, ou o equivalente a 100@. O sonho do pecuarista!! Claaaro, pois o boi comum vai para o abate com 18/20@, ou cerca de 300kg., já descartada a carcaça, sem cabeça, pele, pés e vísceras. O auroque produziria tranquilamente mais de 60@! Mas haja pasto, ração e outros quetais... Enquanto isso, no Brasil recente, apenas um touro da raça Limousin, chamado Hudson, de propriedade da Fazenda Boa Esperança, atingiu o peso recorde de 1.410kg, no Parque de Exposições Assis Brasil (Esteio/RS). Mas era um p... touro!

Fato é que o tal Auroque surgiu há 320.000 anos, sabe-se lá de onde,e habitou o norte da hoje África, Ásia e Europa, em cujas planícies reinava quase absoluto, considerados seu tamanho, força e ferocidadeequipado que estava com enormes chifres de 75cm de cada lado, virados para o ataque. Mas, como os bois atuais, só comia gramíneos. Começou a ser controlado, não imagino como, por volta de 80.000 atrás e se tem notícia de que sua domesticação tem apenas alguns milhares de anos, o que resultou na sua extinção por volta de 1.600 DC, devido à incessante atividade de caçadores-recolhedores. Um dia qualquer do futuro, quem sabe a humanidade consiga extinguir o boi. Esse, coitado, nem precisa caçar...

Jeremias Alves Pereira Filho - Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.  

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