OPINIÃO

A solidão do câncer

Na gravação divulgada na sexta-feira (dia 22), mais magra e abatida, ela fala com firmeza, com palavras de esperança, mas é perceptível que está em dor, se não física, emocional.

Por Ayne Salviano | 23/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para a Folha da Região

Reprodução/Redes Sociais

Princesa de Gales, Kate Middleton
Princesa de Gales, Kate Middleton

Uma das notícias que impactou o público no mundo inteiro nos últimos dias foi a declaração da princesa Kate Middleton, esposa de William, príncipe de Gales e herdeiro da coroa britânica. Sem entrar em detalhes, a futura rainha anunciou que está fazendo quimioterapia, por isso o seu desaparecimento desde o Natal.

A ausência de Kate nos eventos e compromissos reais após uma recente cirurgia na região abdominal levantavam dúvidas sobre sua saúde e criaram, especialmente nas últimas semanas, muitas teorias da conspiração até que a princesa, de 42 anos, fez o pronunciamento, por vídeo, pelas redes sociais oficiais da família real.

Kate é mãe de três filhos de 10, 8 e 5 anos. Na gravação divulgada na sexta-feira (dia 22), mais magra e abatida, ela fala com firmeza, com palavras de esperança, mas é perceptível que está em dor, se não física, emocional.

O câncer faz isso com as pessoas, fragiliza o corpo, mas especialmente a alma. Só quem tem ou teve câncer, ou só quem tem ou teve uma pessoa amada com câncer sabe sobre o que estou tratando agora. Essa fragilidade da alma não é possível de imaginar para quem não tem ou não convive com quem tem câncer.

É certo que o câncer não é mais uma sentença de morte em muitos casos. Graças a ciência, as pesquisas, aos médicos e demais profissionais especializados, a tecnologia, a indústria de medicamentos e, principalmente, hospitais e centros de tratamento específicos, milhões de pessoas são salvas da doença, mas não sem sacrifícios.

O processo, na grande maioria das vezes, é lento e doloroso de muitas formas. E ainda há, infelizmente, os cânceres para os quais não se tem cura até o momento. Daí a fragilidade da alma, a dor da insegurança, as dores do processo. A medicação ameniza, a religiosidade fortalece, mas para o paciente de câncer o recolhimento e a solidão são, muitas vezes, uma necessidade até para o autoentendimento do processo.

É preciso respeitar o paciente de câncer, os seus desejos e as suas vontades. Às vezes ele deseja compartilhar sua experiência. Há muitos gravando o seu dia a dia no processo de tratamento em busca da cura e compartilhando em redes sociais, na maioria das vezes buscando ajudar outras pessoas que vivem experiências semelhantes.

Às vezes, no entanto, o paciente de câncer não quer falar sobre o assunto. E não é que ele esteja negando o diagnóstico ou a doença. Trata-se apenas de como ele quer lidar com o problema e é preciso respeitar a sua vontade. Ninguém tem o direito de julgá-lo. Ninguém tem o direito de exigir dele o que ele não deseja dar. Não se deve nem exigir de familiares e amigos próximos que falem sobre a doença por ele. O assunto pertence só ao paciente.

Foi o que aconteceu com a princesa. É muito perceptível que ela gostaria apenas de se recolher e se tratar. Entretanto, como figura pública, futura rainha da Coroa britânica, ela preservou sua intimidade o quanto pode, mas precisou ceder aos interesses políticos que envolvem a família real.

Mas era visível que ela não gostaria de dar a declaração que deu sobre a doença sentada em um banco de jardim sozinha. Nesse aspecto, pessoas comuns (o que não é o caso da princesa) precisam, insisto, ser respeitadas em suas vontades. O que de melhor podemos dar a eles é nosso amor e nosso respeito.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA em Gestão.

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