CRÔNICA

A gata da Villa de Mouzaïa

'Notei que os ratos que ora infestam Paris deviam conhecer bem a gata, que, acredito, virava tigresa na mera aproximação.' Leia o artigo de Jeremias Alves Pereira Filho

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 10/03/2024 | Tempo de leitura: 2 min
especial para a Folha da Região

Desde minhas crônicas sobe o “O gato de Paris” e ”Gal, a gata do Sahy”, ambas publicadas nesta FR, eu não voltava ao felino tema. Seguiram-se várias sobre cães, tendo o cachorro “Vovô” como recordista de aparições, depois do “Bud” e do “Ziggy”, e, mais tarde o “Simpático cãozinho de Paris”, o salsichinha Daschund, de intrigante nome “Monsieur Watson”, certamente face seus bastos bigodes alourados destacados na pelagem marrom e bem curta. Não saberia dizer se, com este último, teria convivido outro cão, de nome Sherlock, informação essa jamais passada pela madame francesa que fez a doação do alcunhado “Missiê” à Antonia, minha neta e filha da Bia.

Fato é que, vencida(?) a pandemia, surgiu a oportunidade de passar os dias de Carnaval em Paris, na casa delas, filha e neta, numa vilazinha fechada próxima ao Parc des Buttes Chaumont, plena de verde, mesmo durante o frio e chuvoso inverno do mês de fevereiro. Mal chegado eis que me deparo com ronronado gatuno(ôpa!), mais para o indiferente, que passou a meu lado roçando a farta penugem entre minha perna e pé. Desfilou sua desfaçatez com segurança absoluta e se ajeitou na soleira da casa vizinha de frente, sem sequer me dirigir o olhar. Eu é que não consegui manter-me indiferente, diante da fleugma e beleza do animal, cujo sexo logo descobri pelo seu porte misterioso, típico feminino.

Observando a gata, notei que o território era dominado exclusivamente por ela que, confiante, podia até se dar ao luxo de dormitar sossegada na tal soleira, crente de que nenhum ouro felino iria com ela concorrer. Notei que os ratos que ora infestam Paris deviam conhecer bem a gata, que, acredito, virava tigresa na mera aproximação. Pássaros variados e temerosos só vi sobrevoarem as árvores desfolhadas pelo frio, pousando nas galhadas de médio porte que lhes serviam de poleiro seguro. As “hirondelles” revoavam à distância num formoso balé ao entardecer, enquanto os “corbeaux” crocitavam aos pares a baixa altitude, quase tão perto que pensei poder tocá-los com as mãos esticadas. 

Nunca desafiavam a gata (Agatha: aaargh!), que no decorrer dos dias continuava firme e despreocupada, certa de que ratos ou pássaros não iriam lhe incomodar e nem os vizinhos por ela protegidos. Afinal, rainha do pedaço, não iria jamais perder a majestade. 

Jeremias Alves Pereira Filho
Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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