O avanço tecnológico e a utilização da Inteligência Artificial, IA, são desafios humanos que apontam para um futuro jamais imaginado. "Há mais informações do que sabemos do que o que fazer com ela", afirma o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella.
Nesse contexto planetário nos deparamos, pela primeira vez na história, com uma geração de Q.I. abaixo dos pais, segundo o neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, autor do livro "A Fábrica de Cretinos Digitais". O pesquisador alerta sobre o perigo das telas para as crianças e adolescentes. Para ele, a era digital expõe o público infantojuvenil a longos períodos em frente a celulares, computadores, tablets, afetando o Q.I. e o desenvolvimento cognitivo, a concentração, a linguagem, a memória e a cultura com consequente queda no desempenho acadêmico.
Outros fatores atestam o resultado da pesquisa. O especialista fala sobre "a diminuição de interações intrafamiliares essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura, etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzido e qualitativamente degradado; superestimação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial; e o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral."
Numa sociedade altamente conectada, na qual a IA impulsiona todas as áreas para a inovação, com o objetivo de ajudar os humanos a resolverem problemas complexos, podemos pensar no paradoxo que enfrentaremos num futuro próximo com pessoas menos inteligentes, sem o poder de desenvolver um pensamento crítico, num mercado de trabalho que exigirá habilidades diferenciadas e inovadoras para lidar com a complexidade da nova sociedade.
A tecnologia vem nos proporcionando facilidades que muito nos tem ajudado, mas precisamos ficar atentos e exercitar a mente. A inteligência, a reflexão e o pensamento crítico são desenvolvidos ao logo da vida. A liberdade e o livre pensar estão na capacidade das pessoas estabelecerem conexões entre as experiências que foram vividas ou aprendidas desde a infância.
Uma pessoa crítica é aquela que "tem posições independentes e refletidas, é capaz de pensar por si própria e não aceita como verdadeiro o simplesmente estabelecido por outros, mas só após o seu exame livre e fundamentado," define o filósofo Immanuel Kant (1724-1804).
A rapidez no mundo digital de se querer obter respostas e a incapacidade de parar alguns instantes para o questionamento e a reflexão parece que está levando as pessoas a comportamentos radicais que levam a estupidez e a uma multidão de cabeças-ocas. Michel Desmurget tem uma visão pessimista para o futuro, caso os pais não tomem as rédeas da educação de seus filhos e lhes propiciem atividades mais equilibradas, nas quais as crianças possam desenvolver habilidades cognitivas, socioemocionais e comportamentais que favoreçam a formação de competências, e principalmente, o pensamento crítico. "Através do acesso constante e debilitante ao entretenimento, as pessoas estão aprendendo a amar sua servidão", conclui o neurocientista Michel Desmurget.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)
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