CRÔNICA

Vandalismo 2

'Vandalismo foi o que ocorreu com o Monumento aos Estudantes, ao ser vergonhosamente pichado por araçatubenses...' Leia o texto de Jeremias Alves Pereira Filho.

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 10/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min
especial para a Folha da Região

Quem pensa que o vandalismo iria se restringir às pichações do Monumento ao Estudante é “melhor sentar”. Pois não é que os vândalos desafiam a própria origem da palavra?  Vândalos eram os “bárbaros” - que de bárbaros mesmo não tinham nada -, componentes de uma das 30 tribos que habitavam a antiga Germania, hoje Alemanha. Politeístas, seguiam uma seita diferenciada dos Romanos, cristãos, com os quais guerreavam constante e violentamente, cuja cidade eterna foi por eles saqueada no ano 455. Só em 1794 que o termo vandalismo, significando destruição de artefatos culturais, foi criado, “et pour cause”, pelo bispo Henri Gregoire, de Blois, França. A partir de então, atos dessa natureza são chamados de vandalismo. Pois foi o que ocorreu com o Monumento aos Estudantes, ao ser vergonhosamente pichado por araçatubenses... vândalos! 

E pior, o que eu já havia notado em outras visitas ao Monumento, o vandalismo chegou ao ponto da sofisticação, quando, misteriosamente, desapareceu a placa de bronze que não só identificava a obra artística, mas também os nomes do idealizador Genilson Senche, o do designer Massato Ito e do escultor Luiz Morrone, mais a data da inauguração. Esse mistério permaneceu muitos anos na minha memória sem que houvesse a menor pista para sua solução. Nunca ninguém sabia de nada ou como e quando teria o vandalismo ocorrido.

Mas nesta minha última e calma visita à cidade, pude voltar ao local do crime (ôpa!) mais vezes seguidas e comecei a inquirir as poucas pessoas que frequentam o moribundo (êpa!) ambiente. Quase todas sabiam do desaparecimento da placa, exceto aquelas que nem sabiam dela ou nem mesmo o sentido daquele esqueleto estranho sobre o pedestal de alvenaria pintado de branco. Até o próprio Massato não tinha ideia do acontecido e parecia desanimado com o assunto, que já devia ter-lhe “torrado os colhões”. Embora merecesse a placa com o seu nome lembrado, não notei nele qualquer interesse em investigar o estranho sumiço.

O mistério foi finalmente resolvido ao me aproximar da Banca do Mário, jornaleiro instalado há quase 40 anos na praça Getúlio Vargas, próximo da esquina da Carlos Gomes com a José Pedro dos Santos. O Mário é do tempo em que as pessoas frequentavam sua banca para comprar não só jornais da cidade e da capital, como também revistas, gibis, balas, confeitos, amendoim assado, paçoquinha, álbuns de figurinhas, pequenos objetos de plástico, discos de vinil, etc.. Ainda resiste ao tempo, com as dificuldades impostas pela modernidade como a internet,  o streaming e outro bichos. Mas vende discos LP de 33", de vinil, desde  o tempo em que a banca fervia de clientes. Até comprei um vinil do Piazzolla a preço de banana, cuja cotação desconheço atualmente. Achei barato e reclamei, mas o Mário não quis absolutamente aumentar o preço.

E foi ele quem me confidenciou que viu, com os olhos que a terra um dia irá comer, funcionários de algum órgão público ou empresa de prestação de serviços, não sabe ao certo, retirar a placa de bronze, bastante judiada, que ele, inocente e decente jornaleiro, acreditava que iria para a restauração e que seria em breve devolvida. Está ele há anos sem fio esperando sentado...

OBS: Saio de novas férias pelo Carnaval. Pensei em me fantasiar de vândalo, mas logo desisti... 

Jeremias Alves Pereira Filho
Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.  


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