CRÔNICA

Ah... esses patriotas têm um jeito que é só deles

'Sei bem que essa “militância” pela garantia real e efetiva do estado de direito resulta sempre em vão.' Leia o texto de Tito Damazo.

Por Tito Damazo | 10/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min
especial para a Folha da Região

Por vezes – e já lá se vão décadas – desembarco da condução “crônica-lítero-poética”, que, ao iniciar esta coluna, me meti “ousadamente” a produzir de modo que contivesse este caráter, e me embarco mais uma vez no trem do artigo de opinião abordando temas claramente políticos.

Sim, sei bem que essa “militância” pela garantia real e efetiva do estado de direito - democrático mesmo -, cujas máculas deveriam ser sentenciadas crime inafiançável, resulta sempre em vão. A persistência em praticá-la dessa forma, ou seja, se indignar e denunciar em laudas de jornal escrito as atrozes distinções e privilégios rapidamente se desfaz, e muito pior, normalmente, sequer é levada em conta. Se não, as feitas por nomes de reconhecida expressão nacional, normalmente resultam em processos impetrados por figurões patriotas do alto de seu privilégio de poder, contratando caríssimos advogados, hipocritamente alegando terem sido objeto de injúria e difamação.

Passam a vida inteira nesse estado e, assim agindo, estendendo esta forma de ser e proceder aos seus descendentes, amigos apaniguados e seus “mais chegados”, enredando a teia de privilégios proporcionais ao “prestígio” e tamanho do grau de “grandeza”. E se durante centenas de anos assim se mantiveram de forma ostensiva operando pela força bruta, argutos espertalhões, logo aprenderam ser possível fazê-lo sob a capa da denominada democracia representativa, solidificando-se no poder por meio de eleições.

Ora, se são as eleições o “democrático sistema” de se instalar no poder político, com que se justificariam e garantiriam as dominações econômico-financeiras a se perpetrarem, era necessário delas se valer e de tal modo que se dessem sem riscos de ameaças àquele fim. Se apesar de tudo, em algum ou alguns momentos desse errado, haveria de ter paciência, recrudescer firmemente na solidez do poder econômico-financeiro, atuando “sabiamente” para se corrigirem os tais “erros” nos próximos pleitos.

Dispunham e dispõem de trunfo valiosíssimo: a miséria, a pobreza, a ignorância, o medo pânico, a iludida e renovada esperança de que “as coisas” hão de melhorar são votos cuja venalidade varia, mas acabam por acontecer. Haverá sempre de se ter, pois, a paciência de saber cevá-los e, em tempo de pleito eleitoral, convertê-los em voto.

Pronto. Uma vez “legitimamente” instalados nas instâncias de poder político, “legitimamente construídas e reconstruídas” “democraticamente” pelo soberano voto do povo, resta “trabalhar” ativamente em nome deste, de sorte que o poder total deles, os patriotas, se mantenha inabalavelmente incólume.

Esta, a “cartilha de alfabetização política” editada, difundida e cuidada com acuidade. Embora os estratagemas sejam nada perceptíveis, ela se mantém firme e atualizada conforme o andar das carruagens do tempo. Mudadas estas, reformem-se, de conformidade, os “métodos pedagógicos” de atuação, os quais oscilam ao sabor daquelas mudanças, desaguando ora com procedimentos totalitários, ora com formas de populismos demagógicos conduzidos por uma discricionariedade sub-repticiamente autoritária.

Tal sistema de sempre ser poder permeia países pelo mundo, cada qual a seu modo, com sua peculiaridade. E esta nação nossa forjada nessa linhagem civilizatória, veio se fazendo desse jeito que foi ficando bem seu. Uma palavra tão desgastada pelo uso, mas, como fênix, renasce da própria cinza é “corrupção”. Ninguém disso tem a menor dúvida, eu sei. Corrupção é um gesto, um procedimento, uma ação cuja forma de ser, de se dar são tantas que enumerá-las parece sem fim. Corromper sem que percebam; corromper até mesmo sem se perceber. Tão introjetada está que, quando apontada como tal, nalguma ação tida como normal, comum causa espanto. A corrupção é algo congênito à formação civilizatória desta nação. Já nem pátria ainda era, e ospatriotas a tinham no cabresto.

Fico aqui apenas com um dos sítios, mas poderosíssimo e permeado pela grande maioria dos outros. Refiro-me às instâncias de governo do Estado – administrativa, legislativa e judiciária. Generalizo, porque abrange a maioria, ainda que se admitam as exceções. Bilhões do orçamento nacional são destinados a subsidiar a condição nababesca em que elas se mantêm. Longe de designá-las como únicas, entretanto praticamente todas as outras, direta ou indiretamente, com elas se inter-relacionam.

Seu lema se alinha, certamente, ao jargão até já meio fora de moda: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Então, bilhões aos “orçamentos seletos”. A sobra, se houver, a setores menos “relevantes e necessários” à pátria: os sistemas de saúde, de educação, de moradia, de transporte etc., serviços as serem destinados à imensa maioria da população que, direta ou indiretamente, os elegeu.

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