CRÔNICA

Morreu o Edi

29/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Ooops...Edmundo de Paula Furtado. Não farei elegia à sua espetacular formação escolar e cultural, desde Frutal/MG, o Colégio Rio Branco, Largo de São Francisco e pós graduação em Harvard, etc.. Isso era apenas uma pequena parcela do que Edmundo realmente representou na sua boa e satisfatória vida de 85 anos ininterruptos. Digo assim porque foi aquinhoado(ôpa!) pela sorte ou destino e transcorreu esse tempo sem grandes percalços pessoais e de saúde, tendo o privilégio de sempre estampar no rosto característico, aberto e cordial sorriso. Até mesmo diante das eventuais adversidades. 

Amigo de todos e de qualquer um que cruzasse com sua marcante presença, como, em especial, os boêmios de toda vida Flávio “Mulata” Lopes Coelho, Sílvio “Criolo” Lopes Coelho, Carlos Viacava, Oscar Pedroso Horta Filho, Alcides “Cidinho Balaço” Leite Gouveia, Antonio Carlos “Totó” Porto, Julio “Julinho” Renato Parente, Armando Conde, José Paulo “Zé do Pé” Montalvan Freire, Domingos Moraes, Eduardo “Edú” Pereira de Carvalho, Júlio “Julinho” Toledo Piza... Melhor parar aqui, porque certamente faltará espaço para nomear todos, que, se não estiverem listados, assim se considerem. Claro que teve a  geração intermediária, que faço questão de representar, e  outra, a terceira, formada pelo seu filho João Paulo Furtado, Daniel “Dadau” Lopes Coelho, Leonardo “Leozinho” Coutinho, Roberto “Reisinho” Reis entre inúmeros mais, igual e democraticamente bem tratados. Homens, mulheres, LGTBetc., brancos, pretos, amarelos, crianças, jovens ou velhos. Ricos, pobres ou remediados.

Como boêmio de carteirinha, que sempre foi, deixou de lado sua enorme bagagem pessoal se dedicou ao absoluto no que mais gostava na vida: bar e copos de bar. Ao saber da desativação do clássico bar do Jockey Club do Rio de janeiro, mudou-se temporariamente para lá afim de arrematar o mobiliário do sagrado logradouro etílico e etiquetar peça-por-peça para transportar tudo a São Paulo. Instalou numa casa no Jardins,  milimetricamentepreparada para receber o precioso acervo e remontar o magnífico bar, que chamou justamente de Santo Colomba, um bom sacerdote beneditino irlandês do meado do século VI, chegado numa birita. E recebia todos como convidados igual chegassem para “um drinque” na sua própria casa... Muitos bebericavam e simplesmente iam embora, sem conta a pagar. Fazia parte do caráter do Edi ser solidário como seus pares...

No Santo Colomba desenvolveu sua outra paixão: cuidar de copos especiais para bebidas idem, o que fez com dedicação e esmero de colecionador, antropologista, paleontologista e todos os logistas disponíveis. E não foi egoísta, porque escreveu um lindíssimo livro em homenagem ao copo, cuja requintada obra serve de referência global. Quem, no planetinha azul, quiser montar um Bar, com”b” maiúsculo, basta usar seu livro como dicionário ou manual. Tem tudo lá!

Alguns anos atrás, Edmundo já não se sentia tão jovem – embora fosse – e resolveu se radicar de vez em Paraty, sua terceira paixão – afora os filhos Georgina e João Paulo - para, na calmaria, ouvir Dinah Washington e bebericar algo leve, apenas para “não esquecer o sabor”. Sabedor que seu dia estava chegando pediu aos filhos para, na hora da morte, vesti-lo com o terno de albene branco, camisa idem e sua preferida gravata preta de crochê. Assim elegante, foi visto o Edmundo no crematório de Angra dos Reis pela última vez entre os que ficamos. Saaaravá, Edi!

Jeremias Alves Pereira Filho - Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie. Araçatubense nato.  

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