OPINIÃO

Inteligência artificial e paz (II)

Na mensagem deste ano, o Papa Francisco reflete sobre o alcance da Inteligência Artificial na edificação da paz no mundo.

Por Padre Charles Borg | 20/01/2024 | Tempo de leitura: 2 min
especial para a Folha da Região

O dia primeiro de janeiro é dedicado à paz universal! É hábito o papa dirigir uma mensagem, endereçada a todas as pessoas de boa vontade, a refletir sobre a paz. A mensagem seleciona um assunto candente e convida a ponderar sua importância para a construção da paz no mundo. Na mensagem deste ano, o Papa Francisco reflete sobre o alcance da Inteligência Artificial na edificação da paz no mundo. Seguem mais alguns trechos desta oportuna reflexão:

A dignidade intrínseca de cada pessoa e a fraternidade que nos une devem estar na base do desenvolvimento de novas tecnologias e servir como critérios indiscutíveis para as avaliar antes de sua utilização, para que o progresso digital possa verificar-se no respeito pela justiça e contribuir para a causa da paz. A Inteligência Artificial torna-se cada vez mais importante. Precisamos de estar conscientes das rápidas transformações em curso e geri-las de forma a salvaguardar os direitos humanos fundamentais, respeitando as instituições e as leis que promovem o progresso humano integral. A Inteligência Artificial deveria estar ao serviço dum melhor potencial humano e das nossas altas aspirações, e não em competição com eles. Nas suas múltiplas formas, a Inteligência Artificial, baseada em técnicas de aprendizagem automática, embora ainda num fase pioneira, já está introduzindo mudanças notáveis no tecido das sociedades, exercendo uma influência profunda nas culturas, nos comportamentos sociais e na construção da paz.

O nosso mundo é demasiado vasto, variado e complexo para ser completamente conhecido e classificado. Nem tudo pode ser previsto, nem tudo pode ser calculado; no fim das contas a realidade é superior à ideia. Quanto mais rápidos e complexos eles se tornam, mais difícil fica compreender por que produzem um determinado resultado. As máquinas inteligentes podem desempenhar tarefas com eficiência. A finalidade e o significado das suas operações continuarão, no entanto, a ser determinados ou capacitados por seres humanos com o seu próprio universo de valores. Urge atentar-se que o ser humano, mortal por definição, pensando em ultrapassar todo o limite mediante a técnica, corre o risco, na obsessão de querer controlar tudo, de perder o controle sobre si mesmo. Reconhecer e aceitar o próprio limite de criatura é condição indispensável para que o homem alcance, ou melhor, acolha a plenitude como uma dádiva.

No futuro, determinadas orientações poderão ser determinadas por sistemas de Inteligência Artificial. Estas formas de manipulação ou controle social requerem atenção e vigilância cuidadosas, implicando uma clara responsabilidade legal por parte dos produtores, de quem os contrata e das autoridades governamentais. O respeito fundamental pela dignidade humana requer a rejeição de que a unicidade de pessoa seja identificada com um conjunto de dados. Não se deve permitir que os algoritmos determinem o modo como entendemos os direitos humanos, ponham de lado os valores essenciais de compaixão, de misericórdia e de perdão, ou eliminem a possibilidade de um indíviduo mudar e deixar para trás o passado.

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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