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OPINIÃO
Deixem os vestibulandos em paz!
Esse é um período de muita angústia e sofrimento para os vestibulandos. Por isso o meu pedido: deixem esses jovens em paz! Parem de querer saber quais notas eles tiraram.
Por Ayne Regina Gonçalves Salviano | 20/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min
especial para a Folha da Região
Marcos Santos/USP Imagens
O MEC – Ministério da Educação divulgou na terça-feira, dia 16, as notas do Enem 2023. A partir de segunda-feira, dia 22, os candidatos começarão a alimentar o SISU com seus resultados para buscarem aprovação em universidades públicas.
Esse é um período de muita angústia e sofrimento para os vestibulandos. Por isso o meu pedido: deixem esses jovens em paz! Parem de querer saber quais notas eles tiraram.
Essa insistência de pai e mãe, irmão e irmã, tios, vizinhos, padrinhos, namorados, amigos e curiosos de saber os números não ajuda em nada, ao contrário, só piora a situação.
Se você tem um vestibulando em casa, na família, entre amigos ou apenas conhece um, respeite-o. Se ele quiser, ele comentará com você o desempenho que conseguiu nas provas.
Mas se ele não falar, não provoque a conversa, principalmente se você não tiver condições – inclusive econômicas, com terapia - de dar suporte emocional para a avalanche de sentimentos que despertará.
Não, eu não estou exagerando. Já são mais de 32 anos na sala de aula lecionando para jovens do ensino médio da rede particular, é verdade, mas foi tempo suficiente para assistir muita dor e sofrimento.
Vi jovens engordarem demais chegando aos limites da obesidade mórbida ou emagrecerem demais em decorrência de bulimia e/ou anorexia.
Convivi com adolescentes com tricotilomania (compulsão de arrancar os cabelos) ou que, devido aos problemas enfrentados durante nesse período, desenvolveram alopecia (perda dos cabelos) ou decidiram cortá-los e colori-los de forma extrema apenas para expressar a tristeza em forma de rebeldia.
Presenciei meus alunos desenvolvendo síndromes do pânico, da gaiola (não conseguir sair de casa) e muitos, muitos outros transtornos: dismórfico corporal (vê problema no corpo onde nem sempre existe um), de acumulação, de escoriação, de ansiedade, de humor e até o famoso TOC – Transtorno Obsessivo-compulsivo.
Também perdi alunos que não suportaram a dor de existir nesse momento. Comecei perdendo um por ano, mas com o passar do tempo esse número mais do que dobrou. Em alguns anos, perdi três, quatro adolescentes. Lembro de um dia que perdi dois alunos de uma só vez. A dor é muito grande, a gente morre um pouco com eles.
E essa talvez seja a minha maior dor enquanto professora, de não conseguir convencer alguns deles de que esse momento vai passar. De que eles vão conseguir. Cada um no seu tempo.
Mas é isso que eles não conseguem esperar porque a cobrança é grande e forte. Uma cobrança social, as vezes velada, mas muitas vezes escancarada, feita na forma de provocação ou escárnio.
Para uma juventude que se considera perfeita, superior e não aprendeu a perder, não ser aprovado no primeiro vestibular é o pior que pode acontecer. Eles não se convencem que fazer cursinho, amadurecer, se preparar melhor para uma vaga e universidade mais conceituada pode ser até um privilégio.
Pais, mães, irmãos, avós, avôs, tios, primos, padrinhos, madrinhas, namorados, amigos, vizinhos, curiosos: deixem os vestibulandos em paz! Estejam por perto, ofereçam carinho, ombro amigo, colo, mas não perguntem por resultados. Sejam luz e não gatilho.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, professora, mestre em Comunicação e Semiótica, com MBA em gestão.
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