ARTIGO

Expectativas e angústias na Era Digital

02/01/2024 | Tempo de leitura: 2 min

Em 2024, nossos rituais de passagem estão sendo transformados pela influência digital, trazendo consigo novas expectativas e desafios para os jovens e também adultos. Neste contexto, a noção freudiana de "medo do desamparo" emerge como um elemento-chave, moldando a angústia durante esses momentos de transição.

Os tradicionais ritos de passagem, como formaturas e casamentos, agora ganham um novo cenário nas redes sociais. Antes, era uma foto de formatura na parede da sala; hoje, é um post compartilhado com o mundo. Essa mudança traz consigo uma nova camada de expectativas, alimentando o medo de não corresponder ao ideal de sucesso que a sociedade virtual impõe.

Freud, o pai da psicanálise, falava sobre o "medo do desamparo" como um receio inato de ser abandonado e indefeso. Esse medo se manifesta, de forma significativa, nos momentos de transição, quando as antigas certezas desmoronam, dando lugar a uma nova realidade desconhecida. Na Era Digital, esse medo ganha novas formas, agora ligadas à validação online e à aceitação social virtual.

Imagine um adolescente prestes a ingressar na faculdade. Antes, o medo do desamparo estava vinculado à separação dos pais e à entrada em um ambiente desconhecido. Agora, adiciona-se o medo de não alcançar a vida perfeita que parece ser padrão nas redes sociais. A ansiedade de ser julgado por likes e compartilhamentos amplifica a angústia desse rito de passagem.

A tecnologia, embora conecte, também impõe padrões irreais. O medo de ficar para trás na corrida pela perfeição virtual gera uma angústia constante. A pressão de documentar cada momento da transição, de escolher o filtro perfeito para a foto, torna-se um reflexo do medo de ser deixado para trás na competição pela aceitação online.
Entender e enfrentar essa angústia requer uma abordagem equilibrada. É essencial reconhecer que a perfeição virtual não é real. Os ritos de passagem, embora agora compartilhados globalmente, ainda são experiências individuais e humanas. A busca pela autenticidade, longe das expectativas digitais, é o antídoto para o medo do desamparo nesta era de transições digitais.

Em 2024, abraçamos não apenas os novos rituais de passagem digitais, mas também a oportunidade de redefinir o significado de sucesso, felicidade e aceitação. Quebrar as correntes da perfeição virtual é o primeiro passo para enfrentar o medo do desamparo, construindo uma jornada de transição mais autêntica e significativa para as gerações futuras.

Jean Oliveira é jornalista e estudante de Psicologia e Psicanálise

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