CRÔNICA

Os 115

16/12/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Quem achou que esqueci, se enganou! Aliás, estava justamente por aqui no último dia 02 de dezembro, efeméride da fundação da terrinha, vindo, por coincidência, para o casório da minha sobrinha Cris com o Augusto, em Penápolis, que fluiu em alto astral. E, é claro, saí flanando numa perdida pelos cantos da memória em busca do passado e do presente. Tive poucas boas e muitas péssimas revelações com a cidade que me viu nascer. Bem que podia bancar o ufanista de plantão e dizer das maravilhas urbanas que só aqui, sob o exclusivo sol africano,poderiam existir. Mas a realidade se sobrepõe inapelavelmente à fantasia. 

Tive tristes encontros com locais perdidos da infância e juventude. Prédios históricos demolidos ou abandonados à destruição, pichados, vilipendiados, sujos e infectos. Árvores centenárias simplesmente arrancadas do solo ou decepadas, mutiladas pela poda irracional, desmedida e sem a indispensável participação de competência técnica para tal procedimento. Sinalização precária, ilegível ou inexistentes em enorme proporção nas ruas da cidade. Praças em estado deplorável, sem iluminação adequada, sem mobiliário e invadidas por vândalos e comércio ilegal de qualquer coisa. Poluição visual à solta. Incontáveis placas comerciais extremamente visíveis e chocantes, escondendo por detrás a, talvez ainda, bela cidade. E por aí vai...

De repente, para minha surpresa, um arvoredo à moda antiga surge à frente. Espaço que poderia ser uma praça de verdade, se ordenado e mantido em nome daurbanidade. Chame o síndico, opss, o jardineiro da esquina que resolve. Qualquer um de bom senso resolveria. Avistei uma pequena praça, em formato triangular, na rua Cacique, no Jardim Planalto, onde perto existe outra maior, retangular. Ambas sem qualquer cuidado, mas ainda com belo e frondoso arvoredo, cuja integridade temo após esta crônica publicada. Correm o risco de serem tomadas pela sanha da “revitalização”, eufemismo de destruição nessas plagas(ôpa!).

Nem tudo está perdido! Áreas enormes de mata remanescem às margens da avenidaça que tomou o lugar dos trilhos da NOB, especialmente na região de face para Birigui, diga-se de passagem bem melhor preservada. Quem sabe um manancial, um parque... Mas, cuidado, avistei displicentes placas penduradas por perto com o temível anúncio: “Vende-se”. O que comemorar, verdadeiramente, nesses 115 anos da cidade que todos nós amamos e odiamos ao mesmo tempo? 

Jeremias Alves Pereira Filho - Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.  

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