RELIGIÃO

Anelo

25/11/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Sem amor, a morte! Intuição do poeta americano W. H. Auden, escrita em seu épico poema – 1º de setembro, 1939 – logo após a invasão da Polônia pelo exército alemão. O recrudescimento do ódio e a apologia da intolerância faziam-no prever trágicos desfechos. A sombria realidade de então se reflete no sinistro contexto atual, marcado por ódios étnicos, por insanas guerras, pela estúpida intolerância e pela irrefreável violência que circula pelas ruas de nossas cidades. Medos e incertezas assombram!

Em especial, quando se para e se analisa que a maioria das pessoas conhecidas é gente boa. Gente que ama a família. Gente que frequenta igreja, inclusive. Gente que ama viver em paz. Que estranha realidade, o mundo está em convulsão, e, no entanto, a maioria das pessoas é gente de bem! Não dá para entender a barbárie contra tanta vida humana inocente! Não dá para justificar o insano espiral de violência nas residências e nas ruas. Não dá para digerir o cruel e letal ódio! Como e porque se chegou a este ponto? Está claro existir grave desvio do original processo evolutivo com óbvios desdobramentos para o desequilíbrio social! Está claro que no meio do caminho a natural inclinação para a cooperação ficou transfigurada pelo nocivo instinto de dominação. O tranquilo convívio pela truculenta intolerância. A delirante ambição de uns poucos perverteu a difusa sociabilidade. Arados foram transformados em lanças e fincou-se o dogma que ofensas precisam ser combatidas com agressões mais contundentes! Malgrado a difusa boa índole, a doutrina do ódio se impõe e enfeitiça adeptos! Tem volta?

Caminho outro de redenção não existe fora daquele estabelecido no projeto original e proposto novamente pelo credenciado restaurador da humanidade. Está evidente que ódio não se vence com rancor, que mortes não se compensam com mais mortes. O caminho mais simples continua sendo aquele inscrito na casta consciência de cada ser humano e responde ao anelo da alma humana: restaurar a civilização do amor. Conflitos se encaminham com diálogos. O cético e o cínico questionam a existência de Deus. Se Deus existe, provocam, ele está fazendo de tudo para que ninguém mais acredite em sua existência. A resposta continua firme, serena e pragmática: viver o amor! Investir na cooperação. Educar-se para o diálogo! Caridade não precisa de apologia. Convence pela força do exemplo! É o impactante programa que o Senhor Jesus traz a uma humanidade marcada por uma contumaz tensão entre o pânico e o medo: crer na caridade. Crer na perene vitalidade do bem. Convencer-se, em suma, que somente a caridade não passa! Em seu memorável quadro, retratando os horrores da guerra civil na Espanha, o genial Picasso, inseriu o eloquente simbolismo da vela acesa e da flor que teima brotar mesmo em solo encharcado de sangue! Humano, é o amor! Natural, é a mão estendida! O anelo, é cantar e dançar!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba.

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