OPINIÃO

O chaveiro do Julinho

Leia o artigo de Jeremias Alves Pereira Filho.

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 21/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min
especial para a Folha da Região

Muitos dos meus amigos e leitores conheceram ou conhecem o Julinho pelas suas andanças nessas crônicas. Digo, Júlio Renato Parente. Grannnde e amável figura humana. Dono de extraordinário tirocínio e engraçado pela própria natureza. Nem forçava a barra. Bastava sua presença silenciosa para dizer coisas que alguns reverberavam em vão. Creio que parte considerável dessa qualidade devia-se não só à sua peculiar presença de espírito, mas também à sua expressão corporal. Explico aos incautos que o Julinho não era magro nem gordo, mas um biotipo tamanho universal, dono de proeminente barriguinha de quem bebia e comia bem. Seu corpo falava!

Na idade madura Julinho - como gostava de ser simplesmente chamado - vestia-se com roupas clássicas, isto é, sapatos sociais com os pés sempre vestidos de meias apropriadas  e na mesma tonalidade, assim como a calça de casemira ou linho vincadas “agorinha mesmo”. Camisa social branca ou azul Itália, guarnecida por adequada gravata de seda e lenço idem no bolsinho esquerdo do paletó fazendo “par”. Eventual espaço para uma pólo na mesma coloração, mas tudo sempre “prá dentro da calça”. E cinto preto ou marrom. Isso quando não envergava um bem cortado terno cinza ou blazer “blue navy” com calça bege. Era, como direi modestamente, um homem chique. Já ia me esquecendo dos óculos de grau, lente meio escura, de armação preta, bem postado no rosto redondo de barba recém escanhoada e cabelos aparados puxados para trás e fixados com “bylcreem”. 

Trajava-se conforme a ocasião que sua performance social demandava e flanava seguro e pacificamente nesse ambiente. Como em qualquer outro a bem da verdade, quando, por exemplo, frequentava as rinhas de Extrema, no Sul de Minas, acompanhado de bons galos de briga de origem indiana ou japonesa. Costumava ganhar as disputas (ôpa!!), mas também costumava perder, em geral por confiar em demasia na ave treinada por ele mesmo ou pelo tratador local, seu amigo e guardião. Mas isso é outra estória...

Quero mesmo é me lembrar do dia em que o Julinho me convidou para almoço no Gigetto, em comemoração aos bons serviços jurídicos que lhe prestara numa questão provavelmente simples e vitoriosa, cujos honorários, devido a esse fato, fiz por bem dispensar. Era quinta-feira e o Julinho devia ter outro compromisso para o dia seguinte, motivo pelo qual antecipou o convite para almoço. E eis que surge ele vindo garboso da Martins Fontes pela Avanhandava para entrar triunfante e elegante no restaurante, cumprimentando a todos conhecidos e desconhecidos - mais para conhecidos - para se aboletar na mesinha redonda perto do caixa, na qual já o aguardava na saborosa companhia do Franco e do Paraná, sócios efetivos e eméritos do tradicional lugar. 

Após arrematar algumas doses de Haig, no copo longo só com gelo, o Julinho saca do bolso do paletó e me entrega um pequeno embrulho. Era um chaveiro com o seu retrato tirado em foto social datada de 12/02/1981, indispensável para obter a 2ª. via do Título de Eleitor. Sobrou uma que o fotógrafo da rua 7 de Abril lhe deu de brinde. Na banca de jornal da Praça Patriarca, o Julinho comprou um chaveirinho de plástico desses de embutir foto e me deu de presente, que guardo comigo até hoje. O evento e data jamais esquecerei. A natureza jurídica da causa não me recordo!

Jeremias Alves Pereira Filho
Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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