OPINIÃO

Cabedal!

Leia o artigo de Padre Charles Borg, vigário-geral da Diocese de Araçatuba.

Por Padre Charles Borg | 21/10/2023 | Tempo de leitura: 2 min
especial para a Folha da Região

Levantar inventários é exaustivo! Não raramente, doloroso. Se nos dedicarmos, com serenidade e diligência, a fazer nosso inventário de capacitações e vantagens ficaremos, certamente, surpresos e agradecidos por tantas e admiráveis aptidões que possuímos. Realizar este inventário com a devida transparência representa uma das fundamentais terapias contra depressão e desânimo. Somos bem mais “ricos” e qualificados do que imaginamos! A sanidade de uma pessoa, já foi observado, se mede pela capacidade de contemplar e admirar.

Despertamos, inclusive, para outra realidade que nem sempre avaliamos adequadamente. Muitos elementos que integram nosso inventário existem porque outros investiram e trabalharam para que os tivéssemos. É graças a um sem número de antepassados, contudo, que hoje estamos em condições de usufruir de seus esforços. O mundo não começou conosco! Deixar de reconhecer esta verdade representa arrogante presunção. Ingrata empáfia. Sim, somos herdeiros de tantas preciosidades que somente parando e avaliando é que damos conta do valioso patrimônio que possuímos. Está comprovado que muita da depressão que aflige atualmente o ser humano deve-se ao destaque que se dá às situações negativas que enfrentamos. Não se trata, por óbvio, de ser ingênuo, imaginando viver num mundo de fantasias. É preciso, apenas, vacinar-se contra um negativismo doentio, que enxerga somente desgraças. Focando demais no negativo, esquecemos de reparar o tanto de bom e de belo que existe em nossa vida e em nossa história. Fator outro intrigante, e que merece atenção e análise, é que este mórbido pessimismo se encontra mais entre pessoas de classes abastadas. Gente simples e despretensiosa valoriza as miúdas conquistas.

Emerge, espontânea, outra dedução: a melhor maneira de demonstrar apreço e gratidão pelas heranças recebidas é conservá-las, repassá-las com responsabilidade às gerações vindouras e, enquanto possível, ainda aperfeiçoar o legado recebido. Diferente de alguns inventários familiares que não raramente dividem famílias e geram rivalidades, essas heranças culturais estão ao nosso alcance para serem divididas e partilhadas. Condição básica para as reconhecer e não permitir que se percam é diminuir o passo e domar essa pressa que nos arrasta com a violência de uma enchente. Urge, em suma, contemplar e enxergar! Surpresos ficaremos e reverentes agradeceremos os tantos belos talentos que possuímos.

Aplicar-se em realizar regularmente um inventário da nossa história, pode, sim, dar trabalho. Certamente, porém, prestará imensamente para nos fazer compreender o quanto distintos somos. Com certeza haveremos de lamentar várias oportunidades que deixamos perder por ignorância, por descuido ou até por tolo convencimento. Emergirá, todavia, precioso cabedal a nos alegrar e a nos inspirar celebrar a vida. E a prosseguir em nossa jornada, leves e reverentes!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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