Opinião

Kairós

08/10/2023 | Tempo de leitura: 2 min

 

Oito minutos de silêncio! A praça de São Pedro, no Vaticano, repleta de fiéis, atendeu ao apelo do Papa Francisco na abertura do culto ecumênico em preparação para o Sínodo sobre Sinodalidade ora em curso. Este clima de escuta será a logística a marcar o católico encontro. Silêncio, na prática mística, é abrir mente e coração para ouvir o que o Espírito Santo quer comunicar. Com este profético gesto, o Papa Francisco ratifica a metodologia a marcar os trabalhos do Sínodo sobre a Sinodalidade.

O Concílio Vaticano II resgatou a dimensão colegial da Igreja ao redefini-la como povo de Deus a caminho. O Batismo garante a todos os fiéis status de membros plenos nesta congregação. A realidade, todavia, tem sido outra. Institucionalizando-se, a Igreja evoluiu-se em organização monárquica, com todo poder de decisão concentrado em ministros masculinos ordenados. O papel destinado a leigos era de mera subordinação e execução. Os participantes do Concílio Vaticano II empenharem-se em corrigir a distorção, abrindo espaço para uma maior e eficaz participação dos leigos na definição dos rumos da Igreja. Ao ser eleito papa, o cardeal Bergoglio, escolado na rica experiência eclesial do terceiro mundo, onde os leigos, e as leigas, exercem indispensável papel na prática pastoral, assumiu a tarefa de resgatar plenamente a dimensão colegial da Igreja. Em síntese, este é o objetivo principal da realização deste Sínodo, fazer com que os rumos da Igreja, seja no âmbito local como continental, contem com a efetiva participação do maior número de batizados possível. Ouvir antes de decidir! Convencer-se que o Espírito Santo não é exclusividade de ministros ordenados, mas também fala e age nos batizados. O objetivo do Sínodo não é propor uma nova Igreja, mas um novo jeito de ser Igreja.

Compreende-se o receio que envolve processo de tamanha envergadura. Muitos são os clamores. Diversificadas são as abordagens. Neste contexto de aflitivas angústias existenciais, a Igreja se apresenta como uma tenda, disposta a abrigar, sem prévio protocolo alfandegário, os mais diversos transeuntes. Reconhece, humildemente, não possuir prontos remédios para todas as feridas. Quer, contudo, ser sinal de esperança para um mundo novo. A Igreja de Jesus Cristo reconhece ser sua primordial missão dialogar com o mundo, temperada pelo salutar sal do Evangelho. Sua razão de ser é tornar Cristo presente, conhecido, amado e seguido! Renova sua inabalável fé na presença atuante do Espírito Santo, o grande protagonista deste católico encontro. Ele continua falando à Igrejas. E ela quer ouvir sua voz, sem medos, sem filtros, sem reticências!

Kairós é expressão grega que sinaliza o momento oportuno. Reconhece a Igreja ser este o momento certo para, em compasso de fecunda escuta, questionar-se, com candura e coragem: como ser a Igreja de Jesus Cristo no atual contexto de difusas mudanças de referências?

 

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

Fale com a Folha da Região! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção? Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Araçatuba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.