RELIGIÃO

Sombra

Por Padre Charles | 30/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Analisa o Supremo a descriminalização do aborto! Assuntos polêmicos demandam serenidade de análise. Em se tratando de Estado laico, o legislador prescinde da questão estritamente moral. Define apenas onde começam os direitos de um e onde terminam os direitos do outro. Pois afinal, neste tópico, trata-se basicamente de definir onde começam os direitos do nascituro e onde terminam os direitos da mãe.

Presume-se que o prazo estipulado, a decima-segunda semana de gravidez, esteja amparado em dados científicos. Ora, não existe consenso quanto à definição exata do início da vida humana. Uma verdade, porém, sobressai cristalina: uma vez que haja fecundação, o que sucede é apenas uma evolução natural daquele ser. Já no ato da fecundação algumas particularidades genéticas ficam definidas. Graças ao formidável avanço tecnológico consegue-se detectar atividade cerebral e batimentos cardíacos já na oitava semana de gestação.

Salta intrigante provocação: se não é ser humano, justificaria investir ingentes somas em pesquisas e estudos (projeto genoma) visando garantir ao nascituro, não apenas gestação serena e saudável, mas sobrevida livre de oportunistas enfermidades? Emerge dramática a realidade: enquanto estiver o embrião dentro do útero, fica permitida a intervenção invasiva. O espaço mais sagrado reservado pela natureza para assegurar a saudável evolução da vida humana, passa a ser, por decisão unilateral, o espaço mais vulnerável e desprotegido.

Faz todo sentido defender que um estado laico não pode ser patrulhado por credos religiosos. Nem por isso, todavia, a cultura religiosa deve omitir-se de apresentar seu parecer. Em especial, quando este parecer encontra respaldo em confiáveis teses cientificas. Argumenta-se que a criminalização não impede a prática abortiva. Neste contexto, a atual legislação penaliza mais as mulheres pobres. Panorama verdadeiro e que apresenta sérios desafios para a saúde publica! Resolver este impasse autorizando unilateral e agressiva interrupção na evolução de um outro ser vivo nem de longe parece ser justo. Que dirá ético!

Ao posicionar-se contra, a religião afirma que a prática do aborto voluntário constitui grave agressão contra a vida. Fere a inerente dignidade devida a todo ser humano. O que se cogita como solução, acarreta potencialmente indeléveis incômodos éticos, emotivos e psicológicos, para as próprias gestantes inclusive. A prática pastoral – como também a experiência clínica – confirmam: a prática do aborto gera uma sombra – remorso? – que atormenta persistentemente a consciência da gestante. A natureza – Deus, para a crente – preparou a mulher para gerar vidas. Pode, sim, escolher se quer ou não ser mãe. Esta liberdade cessa, todavia, quando um novo ser começa a tomar forma em suas entranhas. Vitalidade, afeto, psique, tudo na mulher passa a funcionar em virtude do novo ser! É da natureza! É de Deus!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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