OPINIÃO

Zé do Pé e a psicologia

25/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

LEMBRETE:
Zé do Pé não tinha escolaridade acadêmica, mas era titular de sabedoria inata. Ao bater os olhos sobre determinada pessoa, tecia seus neurônios agitados e desenhava perfil muito próximo do caráter do examinado. Nem sempre acertava. Isso, nem sempre: o que significava que “quase sempre acertava”!

O CASO:
Desde cedo, o José Paulo Freire já se pronunciava elegante. Tinha porte e “cara de rico”, segundo o padrão nacional de homem rico: branco, cis, pele clara, cabelos finos e lisos, cerca de 1,75m, 80kg, e... ternos bem cortados. Sabia se conduzir em qualquer lugar. Era um “camaleão”, cujas características do ambiente assimilava e adaptava com desenvoltura. Ninguém notava essa modulação, tamanha a naturalidade que imprimia aos mínimos detalhes do seu comportamento. E assim capitalizava segundo suas conveniências, sempre para o bem e jamais em prejuízo do outro. Gostava – na verdade adorava com obsessão – ser visto nos melhores lugares. Quando percebia que o local estava desprovido do seu foco, permanecia justamente o tempo social e se mandava para outro bar ou restaurante. 

Um pouco diferente do Julinho Renato Parente, que, vez ou outra,eu o recebia no meio da manhã no escritório de advocacia no Conjunto Zarvos trajando terno de casemira inglesa azul, camisa branca, gravata de seda listrada com predominância das cores da bandeira italiana, cinto e sapatos pretos, lenço estampado de seda pura no bolsinho esquerdo do paletó, óculos tinindo de limpos e cabelos bem penteados para trás com ajuda do fixador Bylcreem. Ao que lhe perguntava:”Onde vai, Julinho, assim tão elegante”. E ele repetia a conhecida resposta, ansioso que estava por lhe ser perguntada: “Vou almoçar no BCN, Jereba, pois quem não é visto é esquecido!” E lá seguia para o disputado almoço de sexta-feira na sede do BCN, em Barueri, na companhia dos Conde, os donos do banco, amizade que desfrutava com méritos personalíssimos.

Guardadas as devidas proporções(aaargh), o Zé do Pé se produzia igualmente para ser visto, mas não para diretores de qualquer banco e sim pela nata da sociedade boêmia e rica da cidade. Desfilava garbosamente (atenção: nada ou tudo a ver com a Garbo, antigo magazine de roupas finas para cavalheiros), pelos principais e badalados bares da Capital nos anos 1970/1980, como o Paddock, Bistrô, Jaraguá, Baiuca Cidade, Bar do Museu, Rodeio, Plano´s e, claro, o 150 do Macksoud Plaza. Este, na época em que os irmãos Peixoto dominavam o cenário musical boêmio com Moacyr ao piano e Araken no pistão, com “palhinhas” eventuais do Cauby. Era uma “swinging São Paulo”, parafraseando o Swinging London do Chelsea e do Soho. Os melhores lugares para circular... Aos amigos Zé do Pé confidenciava: “Seguinte, gosto de ir. Quem me vê por lá, acha que estou montado na grana!”.

Post Scriptum:
Zé do Pé
 era assim: um leitor instantâneo e competente da fauna humana.

Jeremias Alves Pereira Filho
Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie. Araçatubense nato.  

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