OPINIÃO

Descriminalização do aborto

25/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), vai se aposentar compulsoriamente em outubro quando completa 75 anos. Como seu último ato, ela propôs, na semana que passou, a votação pela descriminalização do aborto no país. Atualmente, mulheres brasileiras podem abortar legalmente em casos de estupro, risco de morte da mãe ou quando a gestação é de bebês anencéfalos.

No voto, a ministra propõe que o aborto até 12 semanas de gestação seja descriminalizado. Quando uma ação é descriminalizada, a conduta deixa de ser tratada como crime, mas não significa que ela se torna legalizada. A ação ainda pode ser objeto de outro tipo de sanção, mas ninguém poderá ser preso por isso.

Rosa Weber argumentou que a criminalização do aborto fere direitos fundamentais das mulheres, como os direitos à autodeterminação pessoal, à liberdade e à intimidade. Por outro lado, considerou que a proibição não é eficiente para evitar abortos, sendo mais adequado políticas públicas de prevenção à gravidez indesejada, como educação sexual.

No Brasil, a estimativa é de que ocorram 1 milhão de abortos por ano, ou seja, mais de 2,7 mil por dia ou 114 interrupções de gravidez por minuto. Do total de 1 milhão, aproximadamente 200 mil mulheres procuram o SUS para tratar sequelas de abortos mal feitos. Milhares morrem ou ficam estéreis. A maioria delas é preta e pobre. Mulheres brancas e de classes média e alta fazem abortos seguros em clínicas especializadas. Mas o fato é que a lei não impede o aborto.

Ainda no voto da ministra, ela escreveu: "A maternidade é escolha, não obrigação coercitiva. Impor a continuidade da gravidez, a despeito das particularidades que identificam a realidade experimentada pela gestante, representa forma de violência institucional contra a integridade física, psíquica e moral da mulher, colocando-a como instrumento a serviço das decisões do Estado e da sociedade, mas não suas".

O julgamento, que acontecia de forma virtual, foi suspenso a pedido do ministro Luís Roberto Barroso, que deseja discutir o tema de forma presencial em reunião sem data definida ainda. Os grupos interessados no assunto já começaram a se mobilizar, especialmente pelas redes sociais. Os que apoiam a descriminalização do aborto defendem o argumento de ser uma questão de saúde pública e os que não apoiam a proposta estão baseados no argumento religioso.

A sociedade precisa se manifestar. E aqui proponho uma técnica de análise do problema partindo do princípio de que todo conhecimento nasce da dúvida. Para sanar nossas dúvidas, precisamos nos fazer perguntas claras, objetivas e diretas. E a partir das respostas traçar um caminho lógico.

Algumas perguntas pertinentes: 1. O Brasil tem lei que regula o aborto? (Sim). 2. Ela está funcionando (Não). 3. Por que a lei não funciona? 4. O que tem sido feito para evitar os abortos? 5. O que ainda pode ser feito para evitar os abortos?

E por fim: O Brasil tem condições de prender todas as 1 milhão de mulheres por ano que fazem o aborto mais os médicos, os enfermeiros, os técnicos de enfermagem e os “curiosos” que fazem os procedimentos? E se não vai punir, do que adianta qualquer lei?

A sociedade precisa se manifestar. E todos os argumentos lógicos devem ser considerados.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica

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