ARTIGO

Lázaro

A preferência pelas redes sociais afeta duramente o aspecto gregário. Inibe o gosto pela conversação. Leia o artigo do Padre Charles.

Por Padre Charles | 10/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para a Folha da Região

Fernando Frazão/ Agência Brasil

Amizade é assunto sério! Mais valioso que ter amigos é agir como amigo. Fazer-se presente. Isolado, o ser humano adoece emotiva e psicologicamente. Torna-se vulnerável!

Em todas as culturas o tópico amizade sempre é tema delicado, pois envolve sentimentos muito arraigados nas estruturas afetivas e psíquicas do ser humano. Mexe com a segurança emocional de cada indivíduo. Sem esquecer que compartilhar amizades representa uma das mais urgentes e implícitas exigências da alma humana. O ser humano sente necessidade de amar e ser amado e, como natural consequência, alegra-se e realiza-se na companhia de parceiros. Ser amigo representa mais que viver bem socialmente. Relacionamento amigo eleva o patamar do convívio. Introduz afeto, cumplicidade, partilha, confiança, fidelidade a partir de fatores comuns de identificação e de interesses. É um processo contínuo de aproximação e mútuo enriquecimento, alicerçado no respeito e alimentado num afeto sincero.

Essa comunhão afetiva está ficando dramaticamente ameaçada pelo compasso atual da cultura midiática que investe sistematicamente no isolamento das pessoas. Em vários departamentos da vida moderna, religioso inclusive, o homem é induzido a pensar que pode se virar bem distanciando-se dos outros. Aumenta o individualismo. Enaltece-se a independência. Essa tendência para o isolamento encontra poderoso suporte na evolução tecnológica dos recursos midiáticos que, ao facilitar contatos ilimitados em tempo real, cria a ilusão de socialização. Ao ceder à pressão para manter-se virtualmente conectado, o cidadão não atina que está ficando existencial e socialmente desconectado. A preferência pelas redes sociais afeta duramente o aspecto gregário. Inibe o gosto pela conversação. 

Trava a capacidade de dialogar. É demasiado frequente, e aflitivo, ver pessoas sentadas à mesma mesa se divertindo mais teclando aparelhos eletrônicos que trocando conversas. Emerge inquietante fenômeno, particularmente entre a geração jovem, justamente a mais fissurada em aparelhos celulares, o receio de relacionar-se afetivamente e de maneira comprometedora. O jovem indica estar com medo de assumir compromissos afetivos consistentes. Prefere o ficar fugaz. Contenta-se com o prazer instantâneo e descompromissado. Aumentam as dúvidas existenciais. Questiona-se o afeto. Rareiam-se as amizades que enlevam. O futuro intranquiliza. Encolhe-se na solidão. Com a autoestima profundamente afetada, previsíveis ficam desfechos trágicos!

Urge resgatar a identidade gregária e afetiva do ser humano. Afinal, é disto que se trata a atual crise de relacionamentos superficiais e de cotidianos difusamente enfadonhos. Rasguem-se os casulos do medo que aprisionam. Tal qual Lázaro, é preciso sair para fora, libertar-se das amarras e caminhar confiante! Acredite-se no imenso potencial benéfico do afeto! Opte-se agir como amigo! Não é bom que o homem fique só!

Padre Charles é vigário-geral da Diocese de Araçatuba.

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