ARTIGO

Divino abraço

29/08/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Mata-se estupidamente! Morre-se repentinamente! Emerge, neste dramático contexto, a recorrente inquietação sobre o sentido da existência humana. A morte debocha da jactância humana. Por mais bem qualificado que se imagina ser, o homem topa repentinamente com a morte. A última palavra parece ser dela.

A mente humana, contudo, não se resigna. Embora reconheça a transitoriedade da vida, a mente humana vive buscando uma luz consistente a iluminar esta desafiadora sombra. Há uma intuição íntima e profunda na alma humana de que a vida não pode simplesmente terminar no túmulo. As progressivas conquistas tecnológicas expressam esta ânsia instintiva de viver. De progredir. Vive-se mais, hoje, e de uma forma saudável e produtiva. Mesmo assim incomoda o pensamento de que se está na fila do cemitério. E a possibilidade do definitivo ocaso gera desassossego.

Muitas são as doutrinas e teorias sobre a contingência da existência. Na falta de convincentes argumentos, pensadores mais recentes preferem defender o fim da existência. Ao cessar a cerebral atividade, o ser humano acaba. Ponto, o fim é o nada! Pouca serventia tem o consolo do legado que o sujeito porventura deixaria para a posteridade! Duríssima indução que desafia o persistente anelo para viver. Esta escola de pensamento que propaga a inexistência do futuro está por detrás da banalidade a que está sendo reduzida a existência humana. A vida do ser humano está valendo cada vez menos! Em constante ameaça está a vida, desde a concepção até a debilitada velhice. Dramático paradoxo: enquanto o cientista investe pesado para prolongar a vida e garantir um futuro saudável, o vizinho levianamente a elimina.

A fé no Deus da vida socorre as hesitações da mente humana. A fé em Deus revigora a intuição da alma humana. Ao crer no Deus da Vida, Princípio e Fim da história, a mente compreende que a existência humana possui um destino além do sensorial. O fim da jornada da vida não pode ser o nada. Seria indigno de Deus criar um ser tão capaz, a quem chama de filho dileto, para acabar simplesmente desintegrado! A vida não cessa com a morte, muda apenas de patamar! Existe futuro além do horizonte material. O fim é partilhar da glória eterna, no eterno abraço com o Deus da Vida. A certeza da imortalidade é psicologicamente benéfica e emocionalmente tranquilizadora. A certeza do futuro estimula o ser humano a valorizar tanto a própria vida como a do próximo. Afinal, se Deus valoriza tanto a vida do ser humano, quem nele crê coerentemente protege e promove a existência do semelhante. Quanto mais Deus está presente na vida do crente, maior é o amor pela vida, mais decidida a luta contra tudo que a põe em perigo!

Eternidade é realidade! Frustrante ilusão é viver sem futuro. Separar-se de quem se ama sempre é doído! Nada comparável, contudo, com a alegria do reencontro no abraço divino!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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