ARTIGO

Zé do Pé e a distribuição de renda

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 29/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

LEMBRETE:

Como sabem, mesmo tendo juízo universal(ôpa!), o Zé do Pé não tinha escolaridade, senão aquela básica obtida ainda garoto e às duras penas nas escolinhas municipais de Araçatuba, aliás, todas de excelente qualidade, diga-se a bem da verdade. Mas nosso herói entendia bastante de economia sem jamais ter sido apresentado a Adam Smith, filósofo e economista escocês (1723-1790), autor da obra prima “A Riqueza das Nações” e, por isso e muito mais, chamado de “pai da economia moderna”. Também nunca foi introduzido(êpa!) à moral de Jeremy Bentham (1748-1832), filósofo inglês iluminista que propunha como boa ou correta a ação que simplesmente proporcionasse mais felicidade do que dor. Nem ao menos aos brasileiros Celso Furtado ou Mario Henrique Simonsen, conhecidos como pessoas e não como economistas de renome, embora pudesse ser recebido a qualquer hora para  um uísque amigo por Antonio Delfim Neto, para “trocar ideia”. Zé tinha mesmo era “intuição econômica”, expressão por mim cunhada(ôpa2!), não no sentido de parentesco.

O CASO:

Zé do Pé, além de bom companheiro e boêmio de primeira linha, era mestre corretor de qualquer coisa. Venderia “vento encanado”, se vivo prestasse assessoria técnica à então presidente Dilma Rousseff. E assim corriam os dias, com corretagem em alguns. De vez em quando uma estiagem de negócios reduzia drasticamente o faturamento do Zé, que se via momentaneamente em sérias dificuldades financeiras, o que não lhe tirava o entusiasmo e alegria de viver. Tocava o barco como se fosse um almirante pilotando num lago plácido.

Com toda razão passava a dever quantias diversas a diversos credores, além dos tradicionais patrocinadores que o abasteciam a “fundo perdido”, o que ocorria quase sempre. Seus credores ocasionais eram aqueles do cotidiano, pessoas comuns ou simples pessoas, mas que, em se tratando do Zé, confiavam no recebimento de seus créditos sem aviso prévio. Podia demorar ou não, mas sabiam que um dia iriam receber seus “caraminguás”.

Numa bela quinta-feira o Zé fechou um “negócio bovino” e recebeu boa quantia em dinheiro vivo. Sem alarde, já na sexta-feira pela manhã, corria o boato de que o bilheteiro-bicheiro do Conjunto Zarvos teria recebido seu crédito acumulado por meses de venda de bichos errados para o cliente certo. Quase ao mesmo tempo, alguém comentava que o Zé havia liquidado a conta do barbeiro, inclusive as penduradas com a esplêndida Vandete, a melhor manicure do pedaço. O valete do Hotel Jaraguá também esparramou a notícia alvissareira de que o Zé havia quitado propinas antigas, dadas como perdidas. Pedintes, prostitutas, errantes ou quem quer que fosse, recebia um quinhão da renda auferida pelo Zé do Pé, que tinha a incrível capacidade de distribuir com generosidade o que ganhava.

Garçons do Bistrô aguardavam ansiosos uma sobra para a caixinha que nunca existiu. E eis que adentra no bar o grande herói, acompanhado do estafeta do Jaraguá carregando um sem número de pacotes, que, aos sorrisos plenos de dentes, o Zé do Pé distribuía. Continham peças do Minelli, sapatos do Spinelli e, muito mais interessante, um jogo completo de uniforme de futebol, na cor vinho, para os funcionários atletas do Bistrô. E com bola oficial da seleção. Ao Olavo Drummond o Zé do Pé confidenciou: “Dinheiro é assim: Vai e volta. Às vezes durmo sem nenhum, outras acordo com muito...” 

Post Scriptum: esse era o Zé do Pé!

Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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