ARTIGO

A Revolução Grisalha

21/08/2023 | Tempo de leitura: 2 min

“Que nada nos limite, que nada nos defina. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre.”

Essa clássica frase é de Simone de Beauvoir (1908-1986), filósofa francesa e ativista feminista que sempre lutou pela liberdade das pessoas serem o que elas realmente desejam ser.

Inspiradas por pensamentos como esse, mulheres do mundo inteiro, nos últimos anos (mas com destaque recentemente), se uniram em um movimento identitário que busca romper com os padrões estabelecidos e normativos de uma sociedade patriarcal e altamente capitalista. Nascia a Revolução Grisalha.

Nela, mulheres de diversas idades estão assumindo os seus cabelos brancos e grisalhos em nome da defesa de uma noção libertária e naturalista do processo de envelhecimento humano.

Essa revolução é heterogênea e muito abrangente, abarcando mulheres de todos os perfis e raças: brancas, negras, orientais, magras, gordas, homo e heterossexuais. Já somos milhões.

Todas lutam contra os padrões de beleza socialmente construídos que imperaram nos corpos femininos. Nesse contexto, o cabelo branco e grisalho sempre esteve culturalmente associado a velhice, decadência física e debilidade para as mulheres.

Nos corpos femininos, são vistos como um sinal de desleixo, de uma velhice assexuada e desinteressante. Não faz muito tempo que a mulher de cabelos sem tintura era pária, inferior, desprezível, marginalizada e excluída (em alguns grupos menos desenvolvidos, ainda são).

Para os homens, ao contrário, o embranquecimento dos cabelos é visto como um “charme” ligado à maturidade, à experiência e à segurança afetiva. Ou seja, era o patriarcado gritando e sambando na cara das mulheres e a indústria da beleza faturando bilhões com a insegurança delas. A Revolução Grisalha está acabando com isso, para desespero de muitos.

De uma hora para outra (mas nem tão rápido e nem tão simples assim), as indústrias de produtos para cabelo viram seu faturamento cair, juntamente com os salões de beleza. A tintura, os produtos pré e pós tintura, a indústria das luzes, das falsas loiras, tudo ruiu e o capitalismo assustou. Afinal, já imaginaram milhões de mulheres deixando de consumir?

Não só mulheres comuns, diga-se de passagem. Atrizes, cantoras, influenciadoras, políticas, juízas, enfim, a todo instante há um rosto feminino de cabelos prateados nas telas quebrando padrões.

Não é de se admirar que a moda, rapidamente, tenha se aproximado da Revolução Grisalha, possivelmente, por identificar um mercado de tendência e de consumo relevante. O que fizeram? Passaram a contratar modelos com esse perfil para desfiles e editoriais de moda.

Mas, assumir cabelos brancos e grisalhos não é uma moda para essas mulheres. É um estilo de vida. Uma forma que encontraram para serem livres. E quem descobre a liberdade não volta para o cativeiro. E o capitalismo que evolua agora porque a Revolução Grisalha está só começando.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista. Mestre em Comunicação e Semiótica e gestora educacional.

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