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Zé do Pé e a LGTBQIA+

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 07/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Lembrete:

Zé do Pé era assim: um homem além do seu tempo. Ao seu estilo, respeitava as diferenças entre as pessoas! Não diria “um precursor”, porque esse jamais foi seu objetivo. Nunca pretendeu se antecipar a ninguém... Mas antecipava!

O caso:

No cair da tarde, quando o “zum-zum” dava espaço para o tilintar de copos, os boêmios do centro da Capital saiam das suas tocas buscando outras, alegres e cheias de vida. Numa delas, chamou-me o Zé do Pé para, na saída do escritório, no Conjunto Zarvos, passar pela portaria do Hotel Jaraguá, no prédio do Estadão,  para, juntos, irmos até a “toca” do Baiúca, na Praça Roosevelt, saudoso reduto etílico-musical, ao encontro do “Camarão”. No pequeno palco ao fundo do bar, quem tivesse o privilégio de conseguir um lugar ali perto, podia se maravilhar com o piano mágico do Moacyr Peixoto, competente “performer”(êita anglicismo...) dos clássicos americanos e da bossa nova de João Donato, Tom Jobim, Dick Farney, Jonnhy Alf... Corria o risco de, quando menos se esperava, ouvir o piston do caçula Araken Peixoto, em surdina e mesmo aberto, coisa que só ele era capaz. Eram os magníficos “Irmãos Peixoto”, que, juntos com o canoro Cauby e a afinada Andyara, formavam uma “quadrilha musical”. O Zimbo Trio começou lá! Alíás, o nome do bar vem do castelhano “bayuca”, que, não por acaso, significa bodega, tasca, taberna, biboca, espelunca... Ou seja, tudo o que o Baiúca era e não era!

Mas, dizia eu, ainda estávamos a caminho para encontrar o “Camarão” - conhecido boêmio exclusivo do Baiúca - a passos lentos pela calçada da contramão da rua da Consolação, passando pelo prédio de fachada redonda que abrigava a sede da Telesp, mais adiante um pouco o Ao Franciscano, depois a agência lotérica e vários botecos. Pouco antes da Roosevelt, existia um botecão na esquina da Nestor Pestana, hoje – pasmem - uma frutaria, frequentado pela fina fauna local que lá “esquentava” para pontificar no Cave ou no Djalma.

Foi de repente que nossos delicados ouvidos boêmios ouviram, de dentro do bar, um barítono chamado: “Ô Zé, vem cá!”. Sem titubear o Zé deu meia-volta e partiu para a o balcão do boteco, onde, solitária num banquinho de girar, uma extravagante dama sorvia um Rabo de Galo, o coquetel popular de preferência nacional. Tascou-lhe um beijo de batom vermelho na face ao que o Zé retrucou:”Ô, conta aí sua história para o Jereba ouvir!” E contou sua vida complicada no interior do Ceará até se achar como travesti em São Paulo. Na saída, brindamos todos com Rabo de Galo, pagamos a conta e o Zé sacou de seu bolso uma nota de US$ 100, estalando de nova, e entregou para a sorridente mulher. E seguimos tranquilos para encontrar o “Camarão”, já a meio expediente e com o Baiúca lotado. 

Post Scriptum: outros “causos” basta enviar para meu endereço eletrônico, mesmo duvidando do Zé do Pé ( jeremias@jeremiasadv.com.br) 

Jeremias Alves Pereira Filho

Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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