ARTIGO

Alegria e cânticos

Por Padre Charles | 18/07/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Joga-se futebol aos domingos! Algumas décadas atrás, no Reino Unido, país de tradições conservadoras, não se permitia praticar esportes, em observância ao preceito religioso de santificar o dia do Senhor! Emerge espontânea a indagação: seria desta maneira que se observa o preceito religioso de guardar o dia santo? O fato de, no Reino Unido, joga-se, hoje, futebol aos domingos, indica que o conceito profano sobressai ao religioso. Em muitos países, mesmo os de tradição cristã, o domingo não difere muito dos outros dias de semana. A observância do mandamento religioso de dedicar a Deus um dia por semana tornou-se opcional, condicionada a variados fatores. Dilui-se a transcendental dimensão religiosa, reduzindo a prática religiosa à vaga herança tradicional.

Urge recordar o contexto original do mandamento. Ao incluir a observância do sábado no decálogo, o Criador buscava mostrar ao povo recém-libertado de uma dura e humilhante escravidão, que inaugurava-se um novo tempo. Na condição de escravos, os judeus não tinham nenhum direito, muito menos ao descanso. Ao insistir no descanso semanal, extensivo explicitamente a estrangeiros e animais, o Deus libertador resgata a fundamental dignidade e a básica igualdade entre todos os seres vivos. Além de ser um preceito religioso, o mandamento de descanso semanal representa inovadora consideração à inata dignidade de todo ser, com especial ênfase à condição humana. A mística judaica enriquece este ensinamento destacando o repouso do Criador ao término da obra da criação. Assim como o Criador descansou ao terminou de sua obra, o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, merece seu descanso semanal.

Vital permanece a necessidade de reconhecer a soberania divina. Urgente resgatar a dignidade de todo ser humano. Salta paradoxo intrigante: em tempos quando se defende, corretamente, a distinção do ser humano, a dessacralização do domingo favorece o retorno a um regime opressor, obrigando grandes multidões de cidadãos a trabalhar duro para poder sobreviver, sem acesso ao lazer, sem a alegria do convívio familiar. Sem, em suma, usufruir-se de uma existência decente! Imperioso, pois, emerge o salutar e humanitário resgate do preceito dominical. Ignora-lo apressa o caminho para múltiplos desajustes. Reconhece-se que o ritmo do mundo mudou. Necessário se faz adaptar-se. Não se trata, pois, de retorno saudosista a costumes moralistas.  O desafio que se apresenta, tanto para a comunidade religiosa, como também para o núcleo familiar e individual, é encontrar formas de santificar o domingo adaptadas ao ritmo atual da vida! Ao celebrar a Eucaristia, e a sua pontual e/ou emergencial substituição, a comunidade fiel reconhece a soberania divina, alimenta a caridade fraterna e purifica as variadas dimensões de relacionamento. Domingo, o dia que o Senhor fez para nós! Dia de alegria e de cânticos!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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