ARTIGO

Zé do Pé e o motorista

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 18/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Lembrete:

Se existia algo que o Zé do Pé não tinha absolutamente, isso se chamava medo. Nunca teve medo de nada, Nem da morte, que lhe sorriu sorrateiramente  no Dia das Mães, como já contei nesse espaço. Imaginem, caros leitores, o Zé atemorizado num dia de festa que ele próprio programou para os “sem mãe” da boêmia privada? Impossível! Se soubesse que morreria, teria feito disso um novo caso, como, aliás, nem precisou se esforçar, pois de fato virou...

Um outro caso:

Durante sua vida o Zé do Pé colecionou fiéis amigos. Nunca soube ou conheci qualquer inimigo seu. Mesmo os mais ferrenhos credores o tinham como “cumpadre” e toleravam o que jamais tolerariam com terceiros. Alguns amigos eram antigos, mais ou menos ou recentes, mas o Zé os igualava democraticamente, de modo que qualquer um se sentisse “amigo íntimo para sempre”.

Acontecia quase todo dia, mas entre esses haviam certos amigos especiais. É o caso do Julinho Toledo Piza Neto, que o conheceu através do Flávio “Mulata” Lopes Coelho, uma personalidade ímpar não só no meio jurídico, como, quem sabe especialmente, na boa boêmia paulistana dos últimos 50 anos. Julinho se tornou amigo do Zé como sempre tivesse sido. Em certas ocasiões, um completava o outro e vice versa, com o Julinho meio incrédulo enrolando fios de cabelo do lado direito da cabeça, logo acima da orelha, obviamente do mesmo lado. O gesto traduzia admiração, estupefação e cumplicidade, acentuada com um sorriso maroto no seu rosto redondo.

Num belo dia resolveram partir para o interior a convite de um fazendeiro amigo e, para esse empreendimento, contrataram o motorista Davi, que, com carro próprio, servia usualmente o Zé.  Nem precisaria dizer que o Zé do Pé nunca dirigiu automóvel e jamais foi habilitado para isso, porque nunca da habilitação precisou. O Julinho, que sabia dirigir e era habilitado, desistiu da função no momento em que assumiu sua boêmia, de amadora para profissional. Creio que foi um precursor intuitivo do reclame ”se beber, não dirija”...

Falava (ops, escrevia) que iam tranquilos para o interior já pela Rodovia Marechal Rondon, quando um cachorro atrevido cruzou a linha e forçou o motorista desviar para o canteiro da sua mão de direção, invadindo área de uma fazenda para assustar meia dúzia de vacas que pastavam mansamente sobre o verdejante pangola. Foi o bastante para frear o veículo intacto, mas do qual Julinho e Davi desembarcaram com o “coração na mão”, para usar terminologia publicável. Refeitos do choque, lembraram do Zé no banco de trás e para lá ocorreram aflitos e temerosos. Porta aberta e sai o Zé do Pé sem qualquer arranhão, elegantemente vestido e sem um fio de cabelo fora do lugar, para, com sua tradicional fleugma britânica admoestar o motorista: ”Ô Davi, olha aqui! Motorista distraído é igual jacaré: vira bolsa”. E continuaram a viagem...

Post Scriptum: mais informações basta enviar para meu endereço eletrônico, mesmo ainda duvidando dos caso do Zé do Pé: jeremias@jeremiasadv.com.br 

Jeremias Alves Pereira Filho

Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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1 COMENTÁRIOS

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  • EVANDRO CORREA
    23/07/2023
    Boa Noite. Poderia me informar o nome de um antigo colunista da folha da região de Araçatuba que terminava a crônica com SAUDAÇÕES ESMERALDINAS?
    • Redação Sampi
      08/09/2023
      Prezado Evandro, boa tarde. Obtivemos a informação de que pode ter sido Hermínio Zonta, já falecido. Era um leitor assíduo da seção de Cartas, onde os textos eram publicados, Atenciosamente,