ARTIGO

Formatação

Por Padre Charles | 26/06/2023 | Tempo de leitura: 2 min

“Não me vejo em condição de presidir a Eucaristia”! A pública confissão foi de uma ministra anglicana logo após o atentado ocorrido no metrô de Londres, alguns anos atrás. Naquele terrível episódio, a filha da reverenda anglicana foi morta e ela não havia ainda conseguido perdoar os terroristas que executaram o hediondo atentado. Perdoar o agressor, rezar por quem causa prejuízos representa um dos mais exigentes preceitos evangélicos. É a novidade do Testamento de Jesus Cristo.

Lamentável constatar estar ficando o relacionamento entre as pessoas – e entre povos – uma   guerra de sobrevivência do mais forte. Vingança e retaliação integram o manual de comportamento aceito como normal. O espiral da violência se alastra, induzindo o cidadão a concluir que o mérito está na valentia estúpida. Faz-se apologia da conduta irascível! Jovens estão sendo doutrinados a adotar condutas agressivas! E, muitos, lamentavelmente, aderem! Avalia-se como pusilânime o agente que escolhe não revidar. Emerge paradoxo intrigante neste compasso de cultura beligerante: anela-se pelo seu fim. A população clama pela urgência de quebrar a nefasta sequência de agressões e revides, pela simples e corriqueira constatação da dor e desolação que se espalham como rastro inevitável do comportamento impetuoso. Está mais que comprovado que não é com violência que se susta este macabro espiral. Punição deve haver, e rigorosa. Somente reprimir, no entanto, não é suficiente para reverter o ímpeto agressivo!

Salta a “revolucionária” receita do Evangelho de Cristo que enfrenta o problema na raiz! É no coração do ser humano que se aloja e se alimenta o impulso agressivo. Trágico paradoxo: o coração humano pode se transformar num brutal arsenal de guerra! Ao indicar orar pelo agressor, fazer o bem a quem causa prejuízo, amar o inimigo, o Mestre de Nazaré incute iniciar o movimento não-violento ajustando sentimentos e emoções. Exigente postura, ousada proposta, sem dúvida, que impõem radical mudança de rumo. Demandam determinação, porque insinuam, inicialmente, vulnerabilidade maior na conta do agredido. Por outro lado, resistir retaliar, contrapor amor ao ódio, correspondem a pressuposto lógico de que o espiral intolerante só para quando um lado opta desistir responder com violência à agressão recebida. Salta a conclusão que somente quem é realmente valente reúne condições de reverter a brutal corrente agressiva.

Até Jesus, normal era amar os amigos e odiar os inimigos! Cristo trouxe proposta de novo normal, inspirado na ação divina de fazer o sol levantar-se tanto sobre os bons como sobre os maus! Padrão que introduz radical mudança de comportamento, elevando o coração humano à condição de laboratório de paz. Formatação lenta e laboriosa, redentora. porém. Interpeladora a conduta da reverenda anglicana pedindo tempo e ajuda para operar a evangélica formatação.              

 

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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