ARTIGO

PARALIMNI

Por Padre Charles | 09/06/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Coincidências há que são providenciais! Procurávamos, minha irmã, meu sobrinho e eu, igreja para participar da missa no domingo de Pentecostes! São muitos os templos ortodoxos em Chipre, católicos nem tanto. Ficávamos sabendo que os católicos estavam, naquele domingo, se reunindo numa capela ortodoxa próxima. La chegando, encontramos a comunidade reunida e dois sacerdotes. Um dos sacerdotes, um italiano que já havia residido no Brasil, estava visitando a região na condição de Vigário Patriarcal para o país. O outro, natural de Gana, estava assumindo a paróquia como pároco. Havia quatro meses que a comunidade católica de Paralimni, em Chipre, estava sem missa! A assembleia era composta de uma maioria filipina, gente alegre e cordial, e mais alguns britânicos residentes na região. Nada mais providencial, e apropriado, em dia de Pentecostes, que uma assembleia multicultural celebrando a Eucaristia na mais perfeita sintonia.

A liturgia do dia faz referência ao poder que emana da presença do Espírito Santo! Naquela singular congregação ficava evidente que o poder que acompanha a presença do Espírito e que anima a Igreja não vem de ascendência política ou cultural, tampouco de armamentos e nem de prosperidade econômica, mas de um amor fraterno, simples e transparente, inspirado e alimentado pela caridade de Cristo. Saltava espontânea a verdade que deve caracterizar a identidade de uma comunidade católica: testemunhar ser possível pessoas de diferentes origens e variadas preferências culturais viverem em harmonia e compreensão, sem a necessidade de abrir mão das próprias peculiaridades. As diferenças enriquecem e completam a composição do mosaico humano.

Esta verdade, de alcance universal, faz-se ainda mais imperiosa em países que, como acontece em Chipre, estão divididos em setores antagônicos. Há uma região dominada pelos turcos, que em 1970 invadiram o país sob o pretexto de defender interesses de residentes turcos, e outra sob a orientação do governo grego, a quem o país originariamente pertencia! Para passar de uma região para outra – para atravessar determinadas ruas – é preciso apresentar o passaporte como se estivesse entrando em país diferente! Salta triste o paradoxo humano: tão inteligente, e, ao mesmo tempo, tão obtuso, culturas tão ricas e, simultaneamente, tão indigentes! E isto em um país abençoado por uma história cultural milenar, ornado por lindas praias e habitado por um povo educado, cordial e hospitaleiro.

Naquela pequena capela de Paralimni, ficou explícita uma das principais tarefas de uma comunidade católica: sem alarde, mas inspirada em profética intuição, colaborar efetivamente para aproximar as pessoas entre si. É possível viver em compasso harmonioso e fecundo, resguardando, inclusive, a própria identidade, desde que pautados e inspirados por valores transcendentais!     

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