ARTIGO

Defendam a universidade pública

Por Ayne Regina Gonçalves Salviano | 06/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Na semana que passou, a USP (Universidade de São Paulo) divulgou uma pesquisa científica que serve de esperança para a cura de alguns tipos de câncer.

O paciente Paulo Pelegrino, de 61 anos, há 13 com câncer e já em cuidados paliativos, teve remissão completa da doença após um mês de terapia celular pela rede pública de Saúde. Sim, eu escrevi rede pública, o SUS, acessível a todos.

A terapia em estudo combate a doença com células de defesa do próprio paciente, modificadas em laboratório. Ela está sendo estudada para três tipos de cânceres, a Leucemia Linfoblástica B, o linfoma não Hodgkin de células B e o mieloma múltiplo.

Na mesma semana que passou, a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) também apresentou um estudo científico em desenvolvimento que promete tratar a dependência da cocaína e seus derivados, como o crack.

Um medicamento criado pelos pesquisadores, chamado Calixcoca, já passou por testes com ratos. Neles, foi observado que o medicamento provoca a produção de anticorpos contra a droga. Agora os pesquisadores aguardam recursos financeiros para iniciar o estudo em voluntários. É uma esperança para tratar da dependência química, um problema de saúde, mas também social e policial no país.

Parto dessas duas notícias recentes do que está sendo produzido cientificamente nas universidades públicas brasileiras – e há outras tantas nos últimos meses que estourariam meu limite nesse artigo - para defender a tese que os brasileiros devem lutar pelas universidades públicas, por sua manutenção e ampliação.

De acordo com a Academia Brasileira de Ciências, as universidades públicas respondem por 95% da produção científica do país. Não são, portanto, lugares de doutrinação e de drogados, como declarou o ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro.

Abraham Weintraub disse, naquela ocasião, que as universidades públicas eram “madraças de doutrinação”, que tinha “plantações extensivas de maconha” além de os laboratórios de química estarem desenvolvendo droga sintética, a metanfetamina.

Os fatos falam por si e desmentem o ex-ministro. Das universidades públicas vêm o sequenciamento do genoma do coronavírus por pesquisadoras da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diversas vacinas, pode vir a cura do câncer e do vício em drogas, entre milhares de outras contribuições para a Saúde, Economia, inovação em todas as demais áreas.

Em Araçatuba mesmo, os cursos de odontologia e medicina veterinária da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho) estão entre os mais recomendados do país. Professores desses cursos são referências internacionais. É preciso valorizar muito esse trabalho.

A verdade é que fala mal da universidade pública quem não entra nela.  Essas pessoas preferem se apegar em alguns prédios mal conservados de alguns campi (porque os repasses públicos estão mesmo aquém das necessidades), mas fingem não ver a qualidade do que se produz mesmo com pouco. Quem quer só aparência escolhe faculdades que parecem shopping center.

Algumas pessoas preferem acreditar que há doutrinação de esquerda nas salas de aula do que entender que no ensino de qualidade não dá tempo pra isso, é matéria mais matéria, trabalho mais trabalho, prova e mais prova o tempo todo.

Escrevo com propriedade porque tenho dois filhos em universidades públicas, na USP e na Unesp. E nenhum deles nunca disse que professor tem tempo para doutrinar, só ensinar e cobrar conhecimento, daí o alto grau de excelência.

Enfim, a universidade pública é patrimônio do país. Deve ser defendida e ampliada para que cada vez mais brasileiros tenham chance de acesso a ela.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica, com experiência de 35 anos na Educação.

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