ARTIGO

Morreu o Derivan

Por Jeremias Alves Pereira Filho | 25/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Lembrete:

Os “causos” do Zé do Pé irão continuar... A pausa de hoje é necessária e o Zé pausaria, até porque admirava e era admirado pelo já saudoso Derivan, que lhe serviu quantidades industriais de drinques.

O caso:

Enquanto a crônica do Zé do Pé sobre a mesa do Zanine corria solta na semana passada, no mesmo dia 18 em que foi publicada, faleceu o Derivan. Digo, Mestre Derivan Ferreira de Souza! Baiano de Cansanção, que, desde lá e  ainda muito jovem,  misturava bebidas diversas com frutas variadas e temperos tirados da sua intuição etílica. Foi um palito mexedor para logo vir para São Paulo encontrar a glória que por ele chamava. Já nos primeiros clássicos servidos no bar do London Tavern, no inesquecível Hilton redondo da avenida Ipiranga, onde o conheci nos anos 1970, Derivan, que ainda não era mestre e nem tinha essa pretensão, brilhava aos olhos dos boêmios que se acotovelavam no balcão para assistir a criação e a entrega da mistura etílica, sempre com um largo e amoroso sorriso estampado no rosto cordial.

E Derivan foi disputado a tapa por outros bares, até não resistir ao chamado do Luiz Paduan para inaugurar o bar do Bistrô, seu novo empreendimento no Conjunto Zarvos, onde já dominava o circuito gastronômico do centro com o tradicional Paddock, ambos com restaurantes qualificados, mesmo contra o ideário do Luiz Lopes Coelho que vaticinava do alto do Olimpo que “em bar não se come, bebe!”. Mesmo assim, Luiz Coelho talvez tenha sido um dos mais assíduos e conhecidos frequentadores do bar do Paddock, “drinkando” às gargalhadas seu Dry Martini preparado e servido pelo Bira, outro icônico barman.

Mas estava mesmo é falando do Derivan, o barman que conquistou o Zarvos inteiro, os arredores, os bairros, a cidade, outras cidades, outros países...  Ao se despedir do Bistrô Derivan turbinou bares e lançou outros, sempre seguido pelos seus fanáticos admiradores e amigos, que recebia com simplicidade e afeto naturais nos consagrados San Francisco Bay Bar, Número, Riviera, Esch Café & Bar, Blue Note Paulista... Tornou-se lider de grande liderança, já chamado de “alquimista”, tamanha sua habilidade na mixologia de bebidas as mais variadas e nem sempre compatíveis. Criou a Academia de Bartenders, foi Presidente da ABB-Associação Brasileira de Barmen e Vice da IBA-International Bartender Associacion, pelas quais divulgou e prestigiou a caipirinha nacional, até ser reconhecida mundialmente como bebida típica brasileira. Pela ABB me honrou com o Título e Carteirinha de Barman Emérito no.13(ôpa!), lá se vão exatos 40 anos! Escreveu diversos livros sobre coquetelaria, ministrou cursos aqui e lá fora, ganhou inúmeros prêmios, inclusive um mundial, e, recentemente, seu foco se dirigiu para transformar em clássico mundial o aperitivo de padaria e boteco formado pela mistura de Pinga (branca ou amarela), Vermouth tinto e Cynar, copo baixo, gelo e twist de limão ou laranja-pera, o popular “Rabo de Galo”, primo pobre do internacional Negroni. Aliás, para quem não sabe ou estava distraído, Rabo de Galo é a tradução livre de “Cocktaill”, que, no Brasil, virou coquetel, isto é, “rabo de galo”. Uuuufaaa! E é pouco, quase nada, para falar do grande Derivan, Rei da Coquetelaria, boa gente, chapa, amigo, filho, pai, marido, tio, avô... Dois de seus filhos, Danty e Douglas, seguiram a carreira de sangue do pai.

Foi defendendo o clássico Rabo de Galo brasileiro, em Sesimbra e depois Lisboa, Portugal, que o Mestre Derivan, presidindo o 1º. Concurso Internacional de Rabo de Galo, não resistiu e faleceu de “mal súbito” cedinho da manhã do dia 18, na final do evento.  Justamente, com justiça e por ironia, morreu na terra do Galo de Barcelos, que cantou triste por ele naquela fria madrugada portuguêsa.

PS1: essa vai para todos que frequentam balcão de boteco, bar ou padaria, inclusive para quem nunca foi...

PS2: na semana que vem, retomo a saga do Zé do Pé e a mesa do Zanine.

Sócio de Jeremias Alves Pereira Filho Advogados Associados; Especialista em Direito Empresarial e Professor Emérito da UPM-Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Araçatubense nato.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Jeremias Alves Pereira Filho
    02/06/2023
    Agradeço a inserção da minha crônica, simples homenagem ao querido amigo e Barman Honoris Causa: Mestre Derivamn. Saaaravá, Derivan! Jeremias Filho