ARTIGO

A pior droga é o álcool

Por Ayne Salviano | 22/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Dias atrás, o cantor Bruno, da dupla sertaneja com Marrone, teve uma atitude considerada transfóbica contra uma repórter, Lisa Gomes, que é uma mulher trans. Enquanto ela o aguardava para gravar uma entrevista, ele a abordou perguntando se ela tinha um pênis.

Mulheres trans são pessoas que foram atribuídas ao sexo ou gênero masculino ao nascer, mas que possuem uma identidade de gênero feminina. Isso acontece porque, na gestação, o cérebro se desenvolve depois dos órgãos sexuais no feto. Ou seja, o corpo pode ter um órgão genital e o cérebro desenvolver outra identidade de gênero.

Por isso é errado pensar que as pessoas escolhem ser transgêneros. Segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), esses indivíduos têm um intenso sofrimento e uma sensação de inadequação ao seu sexo biológico. E por tudo isso, transfobia é crime no Brasil desde 2016 (Decreto Federal nº 8.727).

Assim é fácil entender porque Lisa Gomes se sentiu invadida, ofendida, e desde o ocorrido esteja com acompanhamento médico e remédios. Bruno pediu desculpas pela internet, mas há um agravante nessa história. Quem assiste ao vídeo percebe que ele não estava em seu estado normal.

Isso já tinha lhe ocorrido outras vezes antes. Basta o leitor digitar “Bruno embriagado” e qualquer buscador da internet vai elencar uma série de episódios constrangedores do cantor, de um show em Patos de Minas (MG), a lives, várias, especialmente no momento da pandemia da covid-19. O problema é sempre o mesmo: o alcoolismo.

Na sua última entrevista ao jornalista Pedro Bial, a cantora Rita Lee, falecida recentemente, respondeu rapidamente à pergunta: “qual a pior droga?”. O álcool. Rita Lee tinha experiência no assunto e falava abertamente sobre sua experiência com drogas – várias - na juventude.

O álcool é a pior droga porque ele é tolerado socialmente, apesar de afetar os sentidos muito rapidamente e causar dependência. O álcool é a pior droga porque ele é estimulado nas festas de família e entre os amigos. Alguns pais acreditam que fazem bem aos filhos quando começam “ensiná-los” a beber em casa aos 12, 13 anos. Que é normal oferecer bebidas alcóolicas nas festas de 15 anos. E muitos adolescentes excluem do grupo aqueles que não bebem. Ou seja, se quiserem ter “amigos”, os jovens precisam beber.

Estudiosos explicam que em pouco tempo o álcool perde a graça e os consumidores procuram algo “mais forte”. O álcool é a pior droga porque é a porta de entrada para as outras drogas.

Mas há uma nova tendência. Ela é financeira. Como para se embriagar com cerveja é preciso gastar muito dinheiro – coisa que a maioria dos jovens não tem – eles já estão pulando esse estágio e partindo para a cocaína, cujos efeitos, dizem, são mais potencializados. Além da cocaína, usam as “balas” e os adesivos à base de ectasy e LSD.

Enquanto a sociedade fingir não ver a doença que é o alcoolismo e pessoas bêbadas como Bruno não forem tratadas nem responsabilizadas criminalmente - rápido e exemplarmente -, o álcool continuará fazendo vítimas de muitos crimes: transfobia, mortes no trânsito, homicídios, feminicídios, estupros, entre outros.

Urge um programa nacional antidrogas por parte dos ministérios da Saúde e da Educação com muita informação científica para crianças, jovens, adultos e pais. Além de muito incentivo, por meio de políticas públicas, às artes e aos esportes.

Ayne Regina Gonçalves Salviano é jornalista, professora, mestre em Comunicação e Semiótica.

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