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O Adeus à Eva Wilma, musa do entretenimento brasileiro

Por Redação |
| Tempo de leitura: 6 min
CARREIRA Eva Wilma em seu primeiro trabalho na Rede Globo, na novela “Plumas e Paetês”, em 1980. Crédito: Memória Globo.
CARREIRA Eva Wilma em seu primeiro trabalho na Rede Globo, na novela “Plumas e Paetês”, em 1980. Crédito: Memória Globo.

Atriz faleceu no último sábado (15), aos 87 anos, vítima de um câncer no ovário; Ao lado de Fernanda Montenegro, Laura Cardoso e Natália Timberg, Wilma era uma das musas do horário nobre televisivo.

Bryan Belati

Mais uma estrela do entretenimento nos deixou no último sábado (15). A atriz Eva Wilma, um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira, faleceu aos 87 anos, em São Paulo, em decorrência de um câncer no ovário. Ele estava internada há mais de um mês.

Dona de um currículo repleto de peças de teatro, filmes, telenovelas e até mesmo fotonovelas, Eva Wilma foi uma artista multifacetada. Em qualquer formato, seus personagens ganhavam vida em sua performance sempre forte e eloquente.

A Folha da Região homenageia a artista e narra sua trajetória de vida até os últimos dias no hospital, na capital paulista.

TRAJETÓRIA

Eva Wilma Riefle Buckup nasceu em São Paulo, em dezembro de 1933. Filha de pai alemão e mãe argentina, sua criação sempre envolveu uma mistura de culturas e idiomas.

Seu pai, Otto Riefle Jr., era um metalúrgico que veio da Alemanha para o Brasil em transferência para trabalhar em uma multinacional. No carnaval de 1933, conheceu Luiza Carp, e juntos tiveram Eva.

Morando em São Paulo, a artista estudou em diversos colégios tradicionais, mas sempre teve seus gostos voltados à arte, com aulas particulares de canto, dança, piano e violão, com a mestra musical Inezita Barroso.

Como bailarina clássica, integrou o corpo de baile do São Paulo Ballet, de Maria Oleneva. Em 1953, retornou ao Teatro Municipal da capital paulista,e no mesmo ano passou a se apresentar com o corpo de balé do IV Centenário de São Paulo.

Pouco tempo depois, recebeu convites para atuar, e a atriz enxergou um novo horizonte em sua curta trajetória artística: o da dramaturgia.

Ela foi convidada pelo produtor e diretor do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), José Renato, para formar a primeira turma de teatro de arena, onde atuou com grandes astros e estrelas na época.

Dentre os espetáculos, estão “Judas em Sábado de Aleluia”, “Uma Mulher e Três Palhaços”, “Boeing-Boeing”, “O Santo Inquérito” e “A Megera Domada e Black-Out”, peça produzida por John Herbert e Antunes Filho e dirigida por Antunes Filho.

Seu trabalho no teatro continuou a todo vapor, com as montagens “Fez Um Bonde Chamado Desejo”, “Pulzt”, “Esperando Godot”. Teve a oportunidade de dirigir o espetáculo “Os Rapazes da Banda”, e depois participou de “Quando o Coração Floresce” e a premiada “Queridinha Mamãe”, pela qual recebeu o Molière de Melhor Atriz.

TELEVISÃO Petra, personagem de Eva Wilma em “O Tempo Não Para”, era uma cientista especializada em criogenia, que considerava que não há limites para o conhecimento. Crédito: Divulgação

Mas os palcos já não eram suficientes para toda a força que Wilma tinha em cena. Logo, seu carisma tomou as telonas. Ela protagonizou dois filmes ao lado de Procópio Ferreira, sendo eles “O Homem dos Papagaios” e “A Sogra”, ambos do diretor Armando Couto; e o drama de José Carlos Burle, “O Craque”.

A cinebiografia do cantor “Francisco AlvesChico Viola Não Morreu”, de Roman Vanoly Barreto, em co-produção com a Atlântida e Sonefilme da Argentina, também foi um dos projetos que a atriz atuou como protagonista.

Devido ao contato com profissionais latinos do audiovisual, a atriz começa a trabalhar em coproduções estrangeiras, como “A Moça do Quarto 13”, do americano Richard Cunha; e simultaneamente, trabalha em filmes sob os olhos do alemão Horst Hachler como “Noites Quentes em Copacabana” e “Convite ao Pecado”.

Sua estreia na televisão aconteceu também em 1953, no seriado ”Namorados de São Paulo”. Depois, o nome da obra foi alterado para “Alô, Doçura”, protagonizada por Eva Wilma e John Herbert durante dez anos.

O seriado entrou para o Guiness Book como o mais longo do país e, Eva Wilma, recebeu o Troféu Imprensa 1964 como Destaque do ano. Mas ela não esperava se apaixonar por um dos produtores. Eva e John Herbert se casaram em 1955.

Os dois formaram o principal casal da televisão brasileira dos anos 1950 e 1960. Trabalharam na Record TV, como protagonistas as novelas “Comédia Carioca” e “Prisioneiro de um Sonho”, de Roberto Faria.

Com o auge da TV Tupi, o canal convidou o casal para retornar à casa nas gravações de “A de Amor” e “Confissões de Penélope

A vilã Jane de “Angústia de Amar”, novela baseada no filme “O Que Aconteceu a Baby Jane?”, é um dos papéis que mais fizeram história na televisão, dentre tantos outros. Eva Wilma alcançou reconhecimento internacional ao trabalhar em “O Amor Tem Cara de Mulher”, de Cassiano Gabus Mentes, e recebeu o Troféu Imprensa de atriz revelação em 1966.

No início dos anos 1970, protagonizou histórias com outro casal. Desta vez, com o ator Carlos Zara, que também foi seu marido, de 1979 a 2002. Ele foi o diretor de teledramaturgia da TV Tupi até 1977.

As gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia, chegaram à TV Tupi em 1973. Eva Wilma interpreta as duas moças. Quando o canal fechou as portas definitivamente, em 1980, a atriz foi convidada pela Rede Globo, a compor o quadro de atores humorísticos nas novelas “Plumas e Paetês” e “Elas por Elas

Pedra sobre Pedra”, “Pátria Minha” e “A Indomada” foram algumas das novelas de maior sucesso da artistas, na década de 1980.

O autor Manoel Carlos criou um personagem especialmente para ela, em “História de Amor”. Produções como “O Rei do Gado”, “Esperança”, “Começar de Novo” e “Desejo Proibido” também estão presentes em seu currículo.

Os últimos trabalhos de Eva Wilma na televisão foram “Fina Estampa”, novela em que contracenava com a polêmica Teresa Cristina e fazia o papel de “Iris”, tia da megera, personagem de Cristiane Torloni; “A Grande Família”, em uma participação especial como Dra. Laura, psicanalista da protagonista Dona Nenê; e a bon vivant e alcoólatra Fábia, de Verdades Secretas, sucesso de Walcyr Carrasco.

No teatro, esteve ao lado da amiga e também falecida Nicette Bruno, na peça “O que terá acontecido a Baby Jane?”. Participou da segunda temporada da série “Os Experientes”, onde cantou várias músicas de Vinicius de Moraes e Inezita Barroso, em parceria com o filho John Herbert Júnior.

Eva Wilma recebeu 97 indicações a diversos prêmios do teatro, televisão e cinema, vencendo 92 deles. O último prêmio recebido por ela foi o de Homenagem do Prêmio Cesgranrio de Teatro, no ano passado.

TEATRO Ao lado da também falecida atriz Nicette Bruno, Eva Wilma protagonizou o espetáculo “O que terá acontecido a Baby Jane?”, em São Paulo. Crédito: Teatro Porto Seguro.

SAÚDE

Em 2016, a atriz foi hospitalizada devido a uma embolia pulmonar leve. Wilma permaneceu internada por três semanas, recebendo alta logo na sequência.

No início deste ano, a artista foi internada na UTI de um hospital em São Paulo para tratar uma pneumonia. Porém, Eva teve que retornar ao hospital no mês passado, para tratar problemas cardíacos e renais.

A atriz havia descoberto o câncer no ovário há pouco mais de uma semana. No entanto, veio a falecer devido a uma insuficiência respiratória ocasionada pela disseminação do câncer pelo corpo.

Eva deixa dois filhos, Vivien Riefle Buckup e John Herbert Riefle Buckup, fruto de sua relação com o ator e diretor John Rebert, e cinco netos: Miguel e Mateus Buckup, filhos de Vivien, e Gabriela, Francisco e Vitorio Buckup, filhos de John Herbert Junior. Wilma não teve filhos com Carlos Zara, seu segundo marido.

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