Cultura

Vontade de saber: A psicologia, a generosidade e a vaidade

Por Redação |
| Tempo de leitura: 5 min

CLAUDEMIR GOMES

Na deste domingo, o tema a ser tratado é a generosidade. É conceito ousado e de difícil consideração. Apesar do tema ser muito utilizado, por diversas pessoas, em discursos e comportamentos, o que mais se nota, em sua demonstração. é a impropriedade e a incongruência. A palavra incongruência pode ser definida, de modo rápido, como "o que se diz, não casa bem com o que se faz" ou, de acordo com o dicionário on-line, pode-se ver que, "nesses discursos, a qualidade do que se apresenta sugere contradições". No site Significado, na seção Comportamento humano, a palavra generosidade, é definida como "a virtude de quem compartilha por bondadee que deve ser feito de forma desinteressada, sem esperar nenhum retorno […]e os sinônimos para generosidade são nobreza, grandeza, dignidade, bondade, magnanimidade, benevolência, beneficência, humanidade, compaixão […]Em sua etimologia, a palavra generosidade vem do latim gens, que por sua vez tem fonte indo-europeia no termo gen, que significa gerar ou fazer nascer. As palavras iniciadas por gen em português remetem a esta ideia, como em gênese ou genitor". A generosidade, antes de ser um adjetivo ou uma qualidade, é um jeito de sentir o mundo. Requer longo processo de construção afetiva e de educação humana. É um conceito, cujo sentido, se impõe contra a maré, ou que nada contra a correnteza do senso comum. É imediatamente percebida em quem a tem e, de igual modo, em quem não a possui. De modo semelhante, é logo descoberta no que se diz ser, sem demonstrar coerência. As pessoas fraudulentas têm vida curta nessa condição. A generosidade requer, de quem a tem, um contínuo exercício de descentração. As pessoas generosas não costumam se impor e nem mesmo prevalecer sobre alguém em uma determinada situação. Nesse processo, é comum ver que a pessoa generosa sempre gravita em torno de algo eleito, considerado como maior ou mais importante que a si mesmo. Esse fato, caracteriza a sua maneira de ser e de lidar com as coisas. Agir assim, é ser generoso. Todavia, por ser um comportamento muito valorado, algumas pessoas o tomam, por empréstimo, para melhor performance pessoal nos ambientes sociais. Nesse sentido, a generosidade fica muito próxima da vaidade, pois ao praticá-la, a pessoa sente que leva determinada vantagem na sua autopromoção. Na vaidade, a pessoa parece ser generosa, pois é cortês e se mostra educado. Demonstra, por atitudes, beneficiar alguém em público e, na sua publicidade, se faz polido e recatado. Mas isso tudo não passa de vaidade, pois o beneficiário último é sempre ele mesmo. Sua ação demonstrativa não passa de estratégia política. O vaidoso insiste em fazer muitas coisas, em prol deste ou daquele, para depois contar, a tantos outros, o que fez. Na sua narrativa fatual deixa transparecer o compromisso que tem para com as pessoas menos favorecidas economicamente. E, invariavelmente, na sua conclusão, ele diz: eu sinto muita pena das pessoas mais pobres…, e isso, torna o fato contraditório, pois a pessoa generosa não faz por pena, mas sim por se sentir igual ao outro. E o que a motiva é a busca do equilíbrio da justiça social. Essa motivação faz nela brotar a indignação face a grande diferença imposta entre as pessoas e suas classes sociais. A melhor maneira de reconhecer o generoso é olhá-lo nos olhos e verificar se a expressão demonstrada, na aludida ação generosa, combina corretamente com o corpo. No vaidoso, a simetria não fecha. Há lacunas e brechas entre o olhar e o corpo. A simetria perfeita é encontrada apenas no generoso. Nesse, o corpo todo é generoso. Há um doar-se integral, onde o outro assistido se sente promovido a sujeito da ação. O generoso não economiza esforços em dar a todos a devida visibilidade e, por consequência, o respeito. Em um encontro, ele promove a participação de todos e realça positivamente cada ideia e sugestão. É comum notar a satisfação existente em cada um dos participantes. Todos saem da reunião com um certo grau de aceitação e de relevância - sentimento muito raro de encontrar em pessoas que saem desses eventos. Nas relações de amizade, é comum ao generoso ouvir mais do que falar. Acolher e mostrar-se solidário. Nas relações afetivas, sua participação é a de prestigio às iniciativas indicadas pelo parceiro. O prazer que a pessoa generosa sente, em estar junto com o outro, é verdadeiro e contagiante, pois importa para este, que o companheiro sinta o poder de realizar as suas ideias. A pessoa generosa sempre se mostra disponível à necessidade de alguém. Não faz charme de superioridade e atende ao outro no necessário. Ela é sensível às demandas psicológicas de inclusão, de reconhecimento, de apreço, estima e de amizade. É companheira comprometida. O autor do artigo acima citado, sugere alguns exemplos práticos de generosidade como sinal de boa convivência: "ceder o lugar no ônibus para uma pessoa mais velha, ou a alguém que pareça não estar em condições de ficar de pé; no ambiente escolar e de trabalho: oferecer ajuda para que alguém possa concluir sua tarefa. Tudo isso, sem roubar o protagonismo da ação. Em uma casa, existem várias formas de exercer a generosidade: fazer o café antes mesmo que o outro membro da família, como a mãe por exemplo, comece a fazê-lo. Deixar a fatia maior do bolo para o irmão que gosta mais daquele doce. Tomar um banho rápido, pois sabe que a irmã precisa usar o banheiro por mais tempo e não pode atrasar-se". Muitos outros exemplos existem. Nas relações humanas do cotidiano, muitas pessoas poderiam indicar vários deles. Todavia, para mim, o mais completo gesto de generosidade, está cunhado nas palavras de Jesus, registrada em Mateus 6:2-4: "Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens […]Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente". A generosidade vem do silêncio da nossa alma e busca se encontrar na necessidade alheia do próximo. Ela não traz felicidade a quem a pratica, apenas reduz um pouco o desconforto de existir em um mundo cheio de injustiças. A generosidade é uma das mais humanas maneiras de ser. Em seu processo evolutivo ela toca a santidade e o próprio sentido de ser cristão. Já a vaidade, é a traição mais perversa dos sentimentos humanos, pois é viabilizada por deslocamentos e traduz a necessidade de alguém parecer ser mais do que realmente é.

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários