Artigo

Como envelhecer I - Por Gervásio Antônio Consolaro

Por Redação |
| Tempo de leitura: 3 min


Não quero esperar o tempo passar para ver a festa, chamada vida, terminar ou, pior, sair antes mesmo de ela se dar por encerrada. Fazer isso pode ter um preço alto: o de não viver. Isso me recorda a poetisa Cora Coralina, que teve seu primeiro livro publicado com quase 76 anos - ela morreu com 96 -, e de uma frase que li e cuja autoria é remetida a ela: "o que vale na vida não é o ponto de partida, e sim a caminhada". Cora Coralina, aliás, é só um exemplo entre tantos outros escritores que se dedicaram às palavras depois de ….velhos, quando, normalmente ou socialmente, se espera que você se acomode em uma cadeira e conte os dias sentado numa poltrona.

Mas como envelhecer com plenitude, aproveitando o melhor da caminhada, como diria Cora Coralina? A socióloga, jornalista e escritora inglesa Anne Karpf autora do livro Como Envelhecer dá uma pista: para envelhecer bem é necessário falar sobre aquilo que mais nos apavora, enfrentar medos, barreiras dentro e fora da gente. E envelhecer e morrer (os dois juntos, nessa sequência) está entre os temas que mais nos amedrontam. No entanto, por mais irônico que pareça, se existe algo certo é que vamos envelhecer e morrer. É inevitável. O problema, sendo Anne, é que gastamos em energia demais na luta contra a passagem do tempo, e que poderíamos dedicá-la a viver de uma forma mais plena. "Para um grande número de pessoas, envelhecer significa empobrecer, o que, por sua vez, impede os mais velhos de viver os prazeres e a plenitude da vida" escreve Karpf.

Mas por que, afinal, temos tanto receio de ver a pele ficar flácida e os cabelos, brancos? Um desses fatores é cultural. E perpetuamos isso todos os dias. Quando se fala em alguém com 70, 80 anos, em geral usamos ícones relacionados a em enfermidades: pessoas encurvadas, com olhar triste, solitárias, usando bengala. "as pessoas mais velhas costumam ser identificadas não pelas suas capacidades, mas pelas deficiências" explica Karpf.

A realidade é que a quantidade de pessoas com 80 ou mais só tende a aumentar - estamos vivendo mais. "Esses homens e mulheres passam a ser vistos como um fardo. E, pior, as pessoas não se enxergam como idosos, parece um futuro que não pertence a elas", continua Karpf. Como vamos lidar bem com o próprio envelhecimento se olharmos para isso com medo e sem admiração por quem já chegou a essa fase da vida? " O envelhecer é um processo que começa no nascimento, nunca cessa e sempre tem o potencial de enriquecer nossa vida" pontua Karpf.

Uma das mais interessantes descobertas da gerontologia atual é que cada pessoa tem na realidade três diferentes idades ao mesmo tempo: a idade cronológica, determinada pelo número de anos que viveu; a idade biológica, determinada pela condição e estado de seu corpo; e finalmente a idade psicológica avaliada por aquela que a pessoa sente que tem e demonstra ter, na maneira de agir.

Nas próximas sextas-feiras trataremos mais do assunto, pela atualidade e oportunidade.

Gervásio Antônio Consolaro é ex-delegado Regional Tributário e assessor executivo da Secretaria Municipal da Fazenda

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